quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Uma roda por dia nem sabe o bem que lhe fazia

Eu queria acreditar que a escola tinha mudado muito desde a minha altura. Os jardins de infância que a Laura frequentou fizeram-me acreditar ainda mais numa escola onde se aprendia a brincar, onde se respeitavam as características de cada aluno e se as aproveitavam para uma aprendizagem criativa e positiva.

Mas agora, não sinto nada disso. Os miúdos que só vivem neste mundo há uns 5, 6 anos, são obrigados e ficar fechados dentro de salas, sentados, quietos e de preferência calados, porque entraram para essa grande instituição "a escola dos crescidos". E se ser crescido significa não ter tempo para brincar, se significa levar gritos dos adultos porque se escreveu com esferográfica e não com lápis, se significa levar trabalhos para fazer em casa, religiosamente, todos os dias da semana, não permitindo a descontração e a brincadeira em casa, apesar de já terem feito mil e uma fichas nas horas que estiveram na escola, então ser crescido é uma bela duma merda.

A escola não é gira. Já não se dão reguadas, mas não se permite às crianças que sejam isso mesmo: crianças. Há uma pressa em fazer deles "homenzinhos" e "mulherzinhas" submissos, calados e quietos, como se de máquinas se tratassem, cheios de regras, muitas das vezes absurdas e antipedagógicas, onde as notas valem muito mais que os valores.

Já repararam que os nossos filhos trabalham muito mais horas do que nós?

A Laura está contente. Gosta de ir para a escola. Gosta dos colegas e das aulas de expressão dramática. Não gosta da professora porque ela lhe grita. Não gosta de fazer os trabalhos de casa porque já fez inúmeras fichas na sala de aula e está saturada.

Falei com vários amigos com filhos mais velhos que a minha. "Vai correr tudo bem, é mesmo assim. Há um período de adaptação. Sim, o ensino está uma desgraça. Mas ela vai sobreviver".
Eu não tive filhos para que eles sobrevivam. Eu tive uma filha para que ela viva.

Ontem levou bolinha vermelha porque fez a roda no meio da sala quando a professora lhe chamou a atenção. E ela nem percebe muito bem, porque é sempre correta, educada e gentil com toda a gente, especialmente com os adultos. Gostava de ter tido bolinha azul, mas o vermelho até é a cor preferida da sua mãe e fazer a roda depois de uma manhã inteira a aprender foi o que lhe soube bem.
Até porque com os TPCs diários dificilmente arranjará tempo para regressar às suas aulas de dança... e a miúda tem que gastar aquela energia de alguma maneira.


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