Por estares enfiada numa sala, com esse rabinho que nunca
consegue estar quieto, das 9h às 18h30. Por vires para casa a chorar porque a
professora bateu na mão do teu amigo ou gritou contigo porque estavas a olhar
pela janela a ver passar uma nuvem em forma de gato.
Por trazeres trabalhos de casa como castigo, quando te
prometi que estudar seria sempre uma maravilha.
Perdoa-me, Laura, por teres ficado sem recreio, quando me recusei a ver o teu
sofrimento num domingo de sol (e têm sido tão raros), sentada na tua
secretária, a tentares escrever a pérola da pedagogia “Devo estar com mais
atenção às correções” vezes sem conta, e decidi que era bem mais produtivo
irmos ver o Palácio da Pena e apanhar flores na serra, depois de teres estudado sexta quando chegaste da escola, mais sábado durante grande parte da tarde.
Por veres a mãe de uma colega tua a consolá-la porque a
professora não a deixou ir à casa de banho e ela fez xixi pelas pernas abaixo e
por ouvires o desespero de uma mãe desempregada, que não tem dinheiro para
pagar explicações fora da escola, o apoio escolar não está a resultar e a filha
pergunta-lhe porque é que é burra. Respondo-lhe que não há crianças burras, mas
sim com diferentes formas de aprendizagem. Que são os adultos, neste caso, os
professores, que têm que descobrir maneira de a cativar, e ela agradece-me
porque nunca tinha pensado nisso. Nunca ninguém lhe tinha dito que a filha não
é efectivamente burra.
Por chorares com medo de errares. Porque na escola ralham contigo quando erras.
Por começares a ter medo de falar.
Isto tudo, numa “escola-modelo”, numa capital europeia.
Esta não é a escola que eu quero para ti.
Quero uma escola em que os professores são amigos dos alunos
e os alunos amigos dos professores. Uma escola em que todos se respeitem. Uma
escola compreensiva, solidária, integrativa, justa e criativa. Livre de
violência, de preconceitos. Que não seja submissa. Que forme efectivamente
cidadãos. Sem castigos, sem agressividade, respeitando a especificidade, as
particularidades e o ritmo de cada aluno.
Acima de tudo, uma escola onde se seja feliz. Porque toda a
gente sabe que crianças felizes aprendem melhor.
Ainda vou a tempo, Laura. E isto é uma promessa.