sábado, 22 de fevereiro de 2014

Desculpa, Laura...

Por estares enfiada numa sala, com esse rabinho que nunca consegue estar quieto, das 9h às 18h30. Por vires para casa a chorar porque a professora bateu na mão do teu amigo ou gritou contigo porque estavas a olhar pela janela a ver passar uma nuvem em forma de gato.


Por trazeres trabalhos de casa como castigo, quando te prometi que estudar seria sempre uma maravilha.


Perdoa-me, Laura, por teres ficado sem recreio, quando me recusei a ver o teu sofrimento num domingo de sol (e têm sido tão raros), sentada na tua secretária, a tentares escrever a pérola da pedagogia “Devo estar com mais atenção às correções” vezes sem conta, e decidi que era bem mais produtivo irmos ver o Palácio da Pena e apanhar flores na serra, depois de teres estudado sexta quando chegaste da escola, mais sábado durante grande parte da tarde.


Por  veres  a mãe de uma colega tua a consolá-la porque a professora não a deixou ir à casa de banho e ela fez xixi pelas pernas abaixo e por ouvires o desespero de uma mãe desempregada, que não tem dinheiro para pagar explicações fora da escola, o apoio escolar não está a resultar e a filha pergunta-lhe porque é que é burra. Respondo-lhe que não há crianças burras, mas sim com diferentes formas de aprendizagem. Que são os adultos, neste caso, os professores, que têm que descobrir maneira de a cativar, e ela agradece-me porque nunca tinha pensado nisso. Nunca ninguém lhe tinha dito que a filha não é efectivamente burra.


Por chorares com medo de errares. Porque na escola ralham contigo quando erras.


Por começares a ter medo de falar.


Isto tudo, numa “escola-modelo”, numa capital europeia.



Esta não é a escola que eu quero para ti.


Quero uma escola em que os professores são amigos dos alunos e os alunos amigos dos professores. Uma escola em que todos se respeitem. Uma escola compreensiva, solidária, integrativa, justa e criativa. Livre de violência, de preconceitos. Que não seja submissa. Que forme efectivamente cidadãos. Sem castigos, sem agressividade, respeitando a especificidade, as particularidades e o ritmo de cada aluno.


Acima de tudo, uma escola onde se seja feliz. Porque toda a gente sabe que crianças felizes aprendem melhor.


Ainda vou a tempo, Laura. E isto é uma promessa.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O problema não é o dia de São Valentim

O problema é viver os outros dias do ano quando

- bato com o dedo mindinho do pé no órgão que vive entre a sala e a marquise várias vezes no mesmo dia,
- lhe grito 567784 vezes para que acorde, ele abrir ligeiramente os olhos, e adormecer novamente entre rosnadelas,
- faz a Av. Lusíada como se fosse uma pista de fórmula um,
- lhe peço 6785764 vezes para ler histórias calmas à miúda que já devia estar a dormir e apanhá-los às gargalhadas meia hora depois,
- faz piadas sobre as minhas dores de dentes (para que eu me ria e pare de chorar),
-  tenho dores de cabeça com algumas das músicas que ele ouve e babo-me com as que ele faz,
- nunca gosto do jantar, mas nunca tenho que o cozinhar,

...e o amo mais a cada dia que passa.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Aos seis anos e meio

- É fã dos The Beatles, The Quartet of Woah!, Queen, Pink Floyd, Nirvana, Eddie Vedder, David Bowie, Band of Skulls e Elis Regina.
- Chorou a ver o Little Stuart e um filme de natal em que transformavam um cão em pedra.
- Não compreende como é que as praxes integram alguém. Desde quando é que humilhar, dar ordens e sujar alguém é ser amigo. Já deixou bastante claro que se alguém a tentar pintar, espeta-lhe a caneta pelo nariz acima.
- É do quadro de honra da leitura (merda para os quadros de honra!!!!) - but of course i'm proud.
- Acha esquisito que no livro de estudo do meio existam todo o tipo de famílias, excepto dois pais ou duas mães.
- Gosta de se enfiar a meio da noite na nossa cama. Dormimos mal que a miúda está enorme e ginastica a noite toda, mas sabe bem como tudo.
- Deixou o ballet clássico e passou para o contemporâneo. Tem um professor só para ela. O melhor professor do mundo e nunca a vi tão feliz e tão aplicada.
- Adora dançar, cantar, tocar órgão, bateria e harmonica e pintar grandes telas.
- Ouve música nas portas a bater e na chuva a cair.
- Adora animais. Adora que a Essi durma com ela nas noites frias.
- Ficou de boca aberta quando a levei ao Mosteiros dos Jerónimos. Quando vê arco-íris fica com essa mesma expressão: "Como é que isto é possível??!!".
- Não gosta de fazer os trabalhos de casa. Trá-los praticamente todos os dias e fá-los. Mas com a mão a segurar a cabeça.
- Recusa-se a ir a circos com animais.
- Está a aprender a fazer tricot.
- Na escola conhece toda a gente. Gosta de toda a gente e toda a gente gosta dela.
- É altamente generosa. Leal. Sincera. Carinhosa.
- Fica sentida quando gritam com ela.
- Pergunta-me várias vezes se o Passos Coelho e os seus amigos já se foram embora, para ter um mano.
- A maior alegria seria ter um mano.
- Continua a gostar de saltar nas poças da chuva e nas folhas secas. Pára na rua e fecha os olhos para sentir o sol na cara, nos dias de inverno.
- Adora apanhar conchas.
- Detesta não saber saltar à corda, mas também não tenta aprender.
- Adora que lhe contemos histórias de quando era bebé.
- Continua a não gostar de sopa e pede-me com jeitinho para lha dar à boca nos dias em que está mais cansada.
- Tem uma letra maravilhosa.
- A matemática fascina-a.
- Adora futebol. É do Porto porque gosta de azul.
- Quando está preocupada com alguma coisa, pede ao pai que lhe cante o Summertime.
- Não gosta de ser fotografada e tenho que a fotografar sem que ela repare.
- Gosta de fingir que sabe inglês. E francês.
- Ri-se quando eu e o pai nos beijamos. Ri-se muito e abraça-nos as pernas.
- Sabe falar com as árvores. E com todos os animais. Acha que os pombos a perseguem porque ela os compreende.
- Não toca em leite. Só com chocolate. Não aprecia bolos. Nem sumos. Mas faz cara séria, quando o pai a deixa dar um golo no copo de coca-cola. Sente-se mais crescida.
- Acredita na fada dos dentes e no pai natal.
- Detesta acordar cedo.
- Tem orgulho em ser a única criança a ter a árvore de natal montada na sala. Em Fevereiro.
- É pedinchona e teimosa como tudo.. A maior drama queen com que já me cruzei.
- Nunca se cala. Nunca!
- É maravilhoso ser mãe dela.


...
One of these mornings
You're going to rise up singing
Then you'll spread your wings
And you'll take to the sky

But until that morning
There's a'nothing can harm you
With your daddy and mammy standing by