quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O que é que se passa comigo? (para a Inês - Parte II)


É que nem posso alegar amnésia, que as cicatrizes ainda estão bem visíveis e acho que foi algo inesquecível.
Então não é que depois do susto do episódio do burro, acabei de assinar um papel para consentir a ida de burros à escola da piolha?
Ainda fiz um “hummmm”, mas ela olhou para mim com olhos de bambi e eu assinei.
Ela deu pulinhos de alegria e abraçou-se a mim.
Eu recordei o drama, as dores e o alívio daquele dia. Como é possível tantos sentimentos num só dia?
Dizia-me o R. que eu ia ficar com cicatrizes nos joelhos. Eu???? Eu sou rija, não sou dessas de ficar com cicatrizes. Mas foi cá uma queda e um arrastão… Foi mesmo violento. Com direito a ficar meio coxa, cheia de dores em todo o lado, com uma cicatriz em cada joelho, do mais feio que possam imaginar e um doutoramento em “como sair do autocarro sem dobrar os joelhos, mas mantendo a pose de que sou uma rapariga séria e só estou um bocado torta por causa do burro alfredo”.

sábado, 24 de novembro de 2012

Bye Bye

No banco de trás estava sempre a cadeirinha da piolha e a varinha mágica cor de arco-íris, com tantas purpurinas, que quando saíamos do carro vínhamos cheias de brilhantes na testa, na ponta do nariz, nas bochechas, nas mãos, em todo o lado!
O segredo era simples. O carro não pegava, eu abria o capô, descalçava as botas, expunha as minhas meias da hello kitty para os vizinhos verem, e contava até 3. Aí ao mesmo tempo que dava uma sapatada na bateria com a bota, a Laura fazia magia com a sua varinha. O carro gemia, eu fechava o capô, dávamos mais cinco para celebrar, girava a chave e vrummmm! A estrada era toda nossa.

Um dia escrevi sobre ele,

pode ter 3947 anos, pode ter fugas de água e pode ter bolor porque lhe chove lá dentro. O fecho centralizado pode só funcionar numa das portas e os auto-rádios explodem e deitam fumo. Pode ter mais mossas que chapa, mais nódoas que estofos. Pode ter criação de formigas e aranhiços e até o podem proibir de circular avenida da liberdade fora porque não tem catalizador. Pode ter vidros eléctricos que se fecham à mão e ursos com barretes de natal no porta-bagagens, porque é o melhor carro do mundo!

Hoje despedi-me dele. A Laura vai ganhar um bom casaco para o Inverno. As boas memórias essam ficam cá. As luas de mel, as idas ao ballet, os chapéus de chuva abertos lá dentro por causa das cascatas que caíam do tejadilho, o brincar ao carrossel em plena rotunda do Marquês de Pombal...

Amanhã vou ter que explicar à melhor filha do mundo que a magia no mundo da mecânica terminou por agora...



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Os nossos leitores e leitoras

podiam chegar até nós através de direitos, de greve, de amor, de gajices. Mas não! Os nossos leitores são mega originais! E o que eu me ri!

Um mamo! HAHHAHAHHAHHAHAH




segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Feeling blue


Sou a Vera. Mas durante várias horas dos meus dias sou a mãe da Laura. Há coisas de que não abdico como Vera. Como o meu café e a minha botija de água quente. E há coisas de que não abdico como mãe. Adoro levá-la à escola. Adoro ir buscá-la. Adoro dar-lhe banho, besuntá-la com o creme e pentear aquele cabelo com cheiro a framboesa. A história da noite, entre desejos de sonhos cor de arco-íris e a história da manhã, entre espreguiçadelas, bocejos e beijinhos. Acho engraçado que diferencie as pessoas como cor de rosa, castanhas ou de olhos em bico. Tenho um orgulho tremendo que ofereça a moeda do carrinho do supermercado que lhe dou para ela guardar no seu mealheiro, ao menino sem pernas que está à porta. A Laura é a minha prova de que as crianças não são preconceituosas. Os adultos é que as criam preconceituosas. A minha menina pergunta sempre "tens namorado ou namorada"? Vou-lhe tentando dar as bases para ela ir crescendo. E é fantástica esta visão, de uma menina que já não é um bebé, mas que ainda vai pedindo colinho. Uma menina que já sabe escrever o meu nome. Que já sabe fazer contas e acha divertido lavar o chão. Uma menina que se ri dos rabiscos que fazia quando era bebé. Uma menina que adora música e dança. Uma menina que agradece todos os elogios que lhe fazem e utiliza a expressão, com um sorrisinho malandro "É óbvio, não é?", quando lhe perguntam pelo nome do seu amigo, que se chama amigo. E as gargalhadas dela! Bem! São de outro mundo! Movem montanhas! É a menina mais linda dos meus olhos. É a menina que vou criar neste mundo que neste momento me assusta. Ontem pediu - pela milésima vez - um mano. Eu - pela primeira vez calei-me. Porque senti que isso nunca vai acontecer. Pela primeira vez, senti que desisti. Senti que devia enfrentar o que era óbvio. Senti que este mundo não é um mundo para crianças. Não é saudável, não é feliz, não é humano, é desequilibrado.
Sinto um grito preso na garganta! Deve ser uma pedra da calçada, pronta a disparar. Como é que eu tive uma criança com as coisas no estado caótico em que estão? Claro que tive! E é uma criança extraordinária! Mas e se lhe falta alguma coisa? Obviamente que nunca vai faltar. Mas... e se faltar? Nunca me tinha passado pela cabeça que poderia faltar. Era impensável. É minha filha. Nunca lhe vai faltar nada... Mas... e... tantos mas... Mas eu sou mãe! Nunca lhe há-de faltar nada, nem que isso me mate! Mas...
Fui tentar dormir. Dei voltas e mais voltas na cama. Devo ter dormido umas quatro horas, se tanto. Mas por aqui, durma-se muito ou pouco, não há acordar mal disposto. Acorda-se para a vida!
Aqui há gente que se ama. De verdade!
Matam-me a esperança. Mas eu tenho o resto e o resto é inteiro! É TUDO! Só tenho é que fechar a porta.

Se oiço  "macro-económico" ou "material de suporte" mais alguma vez nos próximos tempos, grito!




quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Para a gente pró-bastonada

Mandem-me um email com a vossa morada que eu entrego aos agentes da autoridade que ontem se portaram tão bem. Assim, antes de cada manifestação, eles batem-vos à porta, partem-vos a cabeça ou uma perninha e depois irão, com certeza, mais calmos para as escadarias de São Bento.
Aí, já que são tão bem ensinados, podem neutralizar a "meia-dúzia de profissionais da agitação" e não varrer a rua de manifestantes pacíficos, espancando-os, perseguindo-os, espalhando o pânico e o caos.
Os relatos de quem lá esteve são impressionantes. As mentiras do Ministro Macedo também.
Como diz a minha querida lolita rosa, da próxima seremos muitos mais!
E vocês que defendem as bastonadas em crianças, idosos, gente em cadeiras de rodas, grávidas, enfim, no povo, ide para o caralho (ou mandem-me um email com as informações que vos pedi!).

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Cara Jonet


Nunca na vida me passou pela cabeça ter que lhe escrever, mas depois de ler tantos comentários a uma intervenção sua num canal de televisão, achei por bem perder a minha meia hora de almoço a ver o vídeo, para me inteirar da situação.
A seguir, assinei com todo o prazer a petição a exigir a sua demissão.
Vamos por partes. Primeiro, nunca conheci ninguém que vivesse acima das suas possibilidades. E olhe que conheço muita gente! Conheço gente que aqui há uns tempos, com o dinheiro que ganhava honestamente, ia ao cinema, ao teatro, a concertos, ia viajar pelos quatro cantos do mundo, ia jantar fora. Uns compraram um portátil. Ou um ipad ou ipod. Também podiam ir tirar radiografias ou tratar das cáries, sem que isso lhes tirasse o bife do prato, ao jantar. Compravam livros e faziam planos para ter filhos, porque viviam consoante as suas possibilidades e, com alguns ajustes, podiam pagar uma creche e um pediatra. Sem roubar nada a ninguém, sem chular ninguém, sem pedir emprestado a ninguém. Com o suor do seu trabalho, lutaram para tentar conquistar os seus sonhos, sejam eles ter filhos ou ter uma televisão de ecrã plano, do tamanho da minha casa. E quem somos nós para julgar?
Segunda questão. A do concerto de rock e as radiografias. Tenho que lhe agradecer por me fazer rir a alto e bom som, ao mesmo tempo que punha a mão na testa e ia murmurando um "eu não acredito nisto!". Então agora é crime ir a concertos? É por ser rock? Se for heavy metal, já é bem visto? Não percebi e não quero acreditar que tenha insinuado que temos que ficar fechados em casa a curtir a depressão da crise. Se calhar quer é proteger-nos, não vá o diabo tecê-las, levar com alguém em cima num moche e ser preciso dinheiro para uma radiografia ao pé torcido, é isso? Pois tenho que informá-la que enquanto vivi com os meus pais, paguei os estudos e algumas despesas da casa com o pouco dinheiro que sobrava. E só não saí do ninho mais cedo, porque precisei de vários exames médicos e tratamentos e sim, realmente era a minha mãe que os pagava. Porque eu não tinha. Às vezes também ia a concertos comigo. Foi ela quem me ensinou como o rock é bom! Foi com essa grande mulher que aprendi também que os cuidados de saúde devem ser gratuitos, porque é mesmo para isso que pagamos impostos. Para que as coisas essenciais não faltem a ninguém.
Terceira questão. A miséria. Não há miséria em Portugal. Não há gente a procurar comida no lixo. Não há gente que come goody (abençoada marca branca do lidl, que o nestum está caro e eu não posso viver acima das minhas possibilidades), para que os filhos possam comer uma refeição de carne ou peixe. E isso não é de louvar. É o que o nosso instinto de mães e pais nos ensina. Que temos que proteger as nossas crianças e fazer com que nunca lhes falte nada, custe o que custar. Mas é triste que tenhamos que chegar a este ponto. É triste que tenhamos que sobreviver em vez de viver. A minha filha, senhora Jonet, tem 5 anos. E dava-lhe cá um baile sobre este assunto.
Quarta questão. Não devia a senhora lutar por erradicar a fome em Portugal, denunciar os casos miseráveis de que tem, com certeza, conhecimento e não andar a gabar-se por andar a alimentar pieguinhas que gostavam de comer bifes todos os dias?
Quinta questão. É preciso ir a sua casa dar uma lição a si e aos seus sobre bons comportamentos ambientais? E de como a defesa do meio ambiente nos torna melhores pessoas? Pelos menos, activas, atentas e preocupadas?
Resumindo, a senhora é uma ursa. Tem a sensibilidade de um pionés e a noção da realidade de um grão de areia.
Realmente fico uma jóia de pessoa quando cagam sentenças sobre como devo gerir as minhas finanças, como devo engolir o roubo de que sou alvo por parte deste (des)governo corrupto e sobre o que devo comer ao jantar.

sobre a greve de amanhã

costumo escrever sempre um texto de apelo à greve. desta vez deixo as palavras de um poeta meu.

RIFÃO QUOTIDIANO

Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece

 
Mário Henrique-Leiria
 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Esta dívida não é nossa!


Foi esta casa que me acolheu quando a minha mãe morreu. Foi aqui que recuperei de grandes perdas e me ergui novamente. Foi aqui que a Laura nasceu, sorriu pela primeira vez, comeu a primeira papa e a primeira sopa, a primeira bolacha maria, disse as primeiras palavras e aprendeu o que é o amor. Foi aqui que começámos, com estantes feitas de pedras da calçada e um quintal cheio de lixo e ratazanas.

Não me quero separar do jacarandá que plantámos para celebrar 1 ano de vida da nossa menina. Nem do baloiço preso no ramo da árvore que nos cobre o céu. Nem da chuva que cai dentro da marquise. Nem do chão arranhado pela Essi, de cada vez que os senhores da Dica da semana nos tocam à campaínha, ou a Ísis - a cadela do andar de cima - desce as escadas.
Amo de cada polaroid descolada da parede da entrada. Amo cada azulejo partido e que a Laura com a ponta do pé, vai arrumando, como uma peça de um puzzle. Gosto da luz que entra pelo quarto e de ver a chuva a lavar as ruas, deitada na cama. Gosto dos tectos altos e do cheiro a baunilha. Gosto de cada falha nos vidros com vista para o quintal.

Não estou disposta a abdicar disto! A deixar a casa onde a minha filha me diz tantas vezes "sou tão feliz aqui!".

Não estou disposta a trocar o peixe da minha filha por nestum, nem a sua felicidade, por causa de uma dívida que não é a minha. Recuso-me a alimentar estes abutres e a viver das suas caridadezinhas!

Agora que já despejei aqui a minha pieguice, este orçamento de estado parece uma anedota. O governo PSD/CDS e o PS como oposição é outra anedota. Porque é demasiado ridículo para ser verdade. É demasiado triste! Tirarem as migalhas a quem já nem um papo-seco tinha em condições é demasiado cruel. É demasiado violento.

Alimentação, habitação, saúde e educação não é um favor que o Estado nos faz. É um direito nosso e do qual não devemos nem podemos abdicar!

O meu GRITO é a minha GREVE!

Por mim, por ti, pelos nossos filhos, pais, avós, irmãos, cães, gatos, piriquitos, vamos parar o país dia 14! E esta austeridade que só leva à miséria!



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

domingo, 4 de novembro de 2012

The Color Run

Eu não sou grande adepta de corridas, mas esta parece diferente! São 5 km de alegria e cor. Os únicos requisitos são uma t-shirt branca e boa disposição. Não é a cara das lolitas. Quem alinha comigo?