quarta-feira, 25 de julho de 2012

Poesia na lancheira

Foram quinze dias de praia com a escola. Com os coleguinhas e a pulseirinha com o nome e o número de telefone, caso se perdesse. Foram quinze dias a atravessar a ponte sem a mãe e sem o pai. Foram quinze dias felizes, com um lanchinho que levava de casa, preparado com todo o amor e carinho, para ela comer, não comigo num piquenique num qualquer jardim, mas na companhia do sol e do mar. Foram quinze poemas e canções para ela descobrir na lancheira. Fernando Pessoa, Sérgio Godinho, Delfina Figueiredo e tantos outros. Porque ela é o nosso poema!




segunda-feira, 23 de julho de 2012

mini lolita

as lolitas dão muitas roupas umas às outras, e trocam roupa. há algumas roupas que eu usei na adolescência que eu adorava mesmo muito e que marcaram muito posições do que acreditava e do que eu era. roupas que me valeram comentários na escola, claro e que eu na altura adorava. ser diferente era o meu statement preferido. essas nunca as dei a ninguém, nem as lolitas as quereriam agora nem serviam a ninguém.
vim para malavado com os meus miúdos e a minha mãe trouxe um saco dessa roupa que ela encontrou onde eu a tinha escondido. a leonor que é linda, tem cabelo pelas costas como eu tinha, é doce e tímida como eu era na idade dela (ainda hoje lhe explicava que as pessoas mudam muito...), apaixonou-se pelas roupas todas. experimentou uma a uma e era uma alegria que nem imaginam. de repente ela pareço eu e substituiu as calças de ganga justas da moda por vestidos bordados pelos pés e brincos de penas.
eu já acho que estes três miúdos são as crianças mais fixes da humanidade mas vê-la a levar este bocado de mim encheu-me o coração. e logo depois fui deitar a minha bebé luísa que me pediu "coceguinhas das boas" nas costas para adormecer enquanto lhe cantava as "três irmazinhas", a música heróica que combate todas as tristezas e birras da minha menina e ela adormece a sorrir, de mão dada comigo.
fogo, isto sim são férias. fazer buracos na praia, ouvir de manhã os sonhos que tiveram, estar na praia com as crianças empoleiradas em mim com a luísa abraçada a dizer que sou fofinha e quentinha, rir o dia todo com as parvoíces das músicas inventadas, pirraças infantis, discussões de irmãos, rir a pedir à minha mãe que não se ria mais quando pedimos às crianças para serem obdientes.
gosto deles. mais do que do meu sangue são de todos os meus dias. este início de férias cheira a marshmallows.  

Vamos ajudar estes cãezinhos que se perderam de casa por causa dos incêndios!!!


sexta-feira, 20 de julho de 2012

Lá história ele fez...

na vida das pessoas que mandou espancar, prender e torturar. Na vida das pessoas que passaram fome. É impossível falar do historiador sem falar da pessoa. Era um fascista! E um fascista nunca é boa gente.
Por isso, irrita-me solenemente todos os posts ridículos do facebook, "era um grande homem", "é uma grande perda para portugal!"... como é que se pode ser uma grande perda, quando se é conivente - e muitas vezes mandatário - de tortura? Provavelmente foram os vossos pais que ele mandou espancar, que tentou calar, que torturou com espancamentos, com medos, com torturas de sono e de ratos!
Como a L., uma grande amiga da minha mãe que se suicidou depois de ter sido submetida aos miminhos da pide. Como outro amigo da família, capturado pela pide e que não cedia nem por nada. Só olhava por uma janela. Era o escape dele. Os pides perceberam, foram buscar a mulher dele a casa, subiram até ao último andar, atiraram-na e ele viu o amor da vida dele morrer, diante dos seus olhos, sem poder fazer nada.
É por um monstro deste calibre que permitiu e apoiou isto que vocês hoje choram?
Realmente, a vossa memória é muita curta!

Desafiem as Lolitas! (pelo menos esta!)

Proposta do dia para os/as nossos/as queridos/as leitores/as:

Lancem um tema! e cada lolita responderá a esse tema como entender.

Eu prometo responder, pelo menos! Preciso de jogos, é sexta-feira, o país está a arder e foram abatidas a tiro uns americanos, na fila para irem ver um filme do batman (e continuam a não rever o raio da lei das armas!!!)...

Distraiam-me, por favor!


quarta-feira, 18 de julho de 2012

“The greatness of a nation and its moral progress can be judged by the way its animals are treated”

Dizia o Gandhi, digo eu e devíamos dizer todos nós.
Um dia a Laura chegou horrorizada a casa porque na escola havia uns meninos maus que o divertimento que arranjaram foi esmagar caracóis. Expliquei-lhe que há meninos que têm que ser ensinados a ser gente e que com certeza eles não gostariam que algum gigante de bibe e chapéu vermelho se chegasse ao pé, os tirasse do escorrega e os esmagasse com os pés.
Ela deve ter-lhes explicado porque não voltou a acontecer.
Os animais são ser parte da família. Devem ser respeitados, amados e estimados. Devem ser felizes e protegidos por nós. Sejam cães, gatos, minhocas, peixes, ratos, coelhos ou bichinhos da seda.
Nunca cá em casa foi admitido puxões de pêlo, incomodá-las enquanto dormem ou pontapés. Nem cá em casa nem em nenhuma situação nessas casas e ruas espalhadas pelo mundo fora que eu presenciasse.
Curiosamente, neste ninho, nunca foi admitido, nem nunca foi tentado! Elas amam-se! Desde sempre. E para sempre.


terça-feira, 17 de julho de 2012

Existe lá coisa melhor

que receber prendas de natal em pleno mês de julho!


O admirável mundo da Laura


Se ela mandasse no mundo, as nuvens eram baixinhas, podíamos moldá-las em forma de animais e lambuzarmo-nos tal e qual como fazemos com o algodão doce, não havia noite a não ser quando quiséssemos ver as estrelas e a lua, não havia acordar cedo nem tempo nem atrasos, não havia nem guerras nem sopa. Havia espuma em todos os banhos e andar de pé descalço o dia todo. Havia neve no chão e nos telhados das casas, folhas secas para pisar e poças de água para chapinhar. Havia flores de todas as cores em todos os lugares. Havia morangos e cerejas para comer. Árvores para trepar. Havia areia para fazer castelos. Com pontes, torres e cavaleiros. E praias a perder de vista com ondas pequeninas. Havia viagens de barco e excessos de velocidade em patins. Havia beijinhos e abraços para dar e receber. Havia histórias com final feliz e cantigas a cada segundo. Palácios, princesas, sapos e tesouros. Nunca havia lágrimas nem medo do escuro. Gatos bebés, bambis e joaninhas. Tubarões e lobos bons. E memória de elefante. Vestidos que rodam. Corações pintados em cada parede branca. Baloiços nas tardes de primavera. Arco-íris. Preguiça no tapete. Rebolanços na relva fresca. E uma palavra para cada momento. Ou várias. Um aceno e um sorriso a quem passasse por nós. Tudo cheirava a mar, a baunilha, a pêssego e a rosas.
Tu mandas no mundo, só ele é que ainda não sabe.





É isto a maturidade?

Saí do trabalho e fui para a paragem de autocarro. Encontrei a mãe do G. que é um coleguinha da Laura que eu adoro.
- Olá! Estava mesmo agora a ligar à minha mãe para ir buscar o G.
- Olá! Ai sim?
- Sim, ainda ir buscar o carro e ir buscá-lo... Puff! Uma canseira!
- Ahhhh moram longe, é?
- Não, moramos mesmo ali pertinho. Somos vizinhas.
- Ah. Ainda têm que ir a algum lado...
- Não...
- Ir buscar o carro para subir a rua? - silêncio - Está um calor, não é?

No caminho para a escolinha há lebres, há andorinhas, também há muitos cócós, mas há flores de todas as cores e um céu infinito. Depois queixam-se que são gordas. Quem é que no seu perfeito juízo vai buscar o carro para subir uma rua? Mas não disse nada disto. Pensei, mas não disse. Falei sobre o tempo. Eu, Vera, falei sobre o calor. Calei-me e nem sequer frazi o sobrolho. Ok, tlvez um bocadinho, são tiques que não se controlam. Mas não disse nada desagradável. Acho que mereço uma prenda!




Há dias em que é um privilégio trabalhar escondidinha atrás de uma secretária!


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Flor de jacarandá


Enquanto umas lolitas enfiam vidas inteiras dentro de caixotes e mudam de casa, outras lolitas preparam viagens. Outras acordam às seis da manhã para levarem os filhos à escola (chegou a altura de praia yeah!!).
É o final do ano lectivo. Eu cá acho mais importante que o ano novo. É a altura ideal para fazer um balanço do ano que passou. E fazer planos para o que aí está para vir.
O meu ano começou com medo. A minha piolha ia mudar de escola e eu estava desempregada. E não podia ter corrido melhor. Arranjei emprego, um emprego que adoro, que me dá a estabilidade que preciso e me apresenta desafios todos os dias. Na reunião de avaliação de final de ano, não podíamos ter vindo mais babados. A E. parecia que tinha trocado de papéis connosco. Que a Laura é especial, é diferente dos colegas, sabe os esconderijos todos da Gulbenkian (é onde o pai e a filha vão passear e encontrar tesouros, à espera que eu saia do trabalho), tem um vocabulário extraordinariamente rico para a idade, é simpática, tem uma energia fabulosa, é altamente participativa, tem uma imaginação inesgotável, é sensível, muito amiga. É uma criança muito feliz. Que nós amamos mais que tudo.

Balanço: O jacarandá deu flor!
Planos: Continuar a ser feliz!


domingo, 8 de julho de 2012

A Laura Bailarina

Alguém lhe perguntou "Estás nervosa, Laura?"
- Não, estou feliz!

Subiu ao palco do grande auditório do CCB, e com a maior das felicidades, dançou, pulou e agarrou aquele palco como eu nunca vi! Com certeza, com alegria e sem vergonhas, sem medo, sem nervoso miudinho. De sorriso nos lábios, com "O brilhozinho nos olhos", a sentir-se uma princesa (descrição dela), de braços ao alto e aos saltinhos como se fosse levantar vôo.

Parabéns princesa! Foste uma estrela a dançar com o céu!



quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Passos Coelho é que é inconstitucional!

Desde quando é que ter um tecto, comida na mesa, serviços de saúde que funcionem, escolas que eduquem é inconstitucional?
Inconstitucional é não exigir aquilo a que temos direito!
Somos pessoas! Somos pessoas que querem trabalhar e viver com dignidade!
Eu não ando aqui a educar uma criança baseada em conceitos de paz, justiça, solidariedade e igualdade de oportunidades para vir este palhaço tentar trocar-me as voltas!
Este gajo é um daqueles casos clássicos de menino nascido em berço de ouro que nunca teve que trabalhar na vida e frases como "fome" e o "dinheiro não chega ao final do mês" não fazem parte do vocabulário dele.
Por mim tudo preso, ele, os boys dele, a mãezinha dele (que devia ter vergonha por ter criado uma amiba em vez de um ser humano), mais o gato por não o ter arranhado todo, mais as tias e os primos e o raio que os parta!!!
Até quando, meus amigos e amigas vão tolerar este atentado??? Até quando???

SAUDADES E INVIDIAE

Poder lutar.
Dar um murro bem dado. Provocar sem piedade e saber que não se vai para casa com um olhar superior no saco, com um sorriso de desdém de quem soube ser «melhor». Ser provocado e não ter de ter um olhar e um sorriso especial para a situação; não estar quase a chegar a casa e lembrar-me, finalmente, do que teria sido perfeito dizer porque há situações para as quais as nossas capacidades linguísticas e cognitivas não são chamadas; não ter de dar uma desculpa - perfeita como esta que seja;


é fechar o punho, sentir a cabeça ficar quente, a ferver, a consciência da irresponsabilidade do acto acompanhado de uma tranquilidade imensa descida sobre nós, das alturas, como um cobertor de papa a cobrir-nos de superioridade física e moral - ilusões doces como gomas de melancia. Não fomos nós, foi o sangue, foi outro, foi o vento, olha ali um elefante, viste aquilo?

Não é um tabefe, um puxão de cabelos, um pontapé nas canelas, um empurrão. É um murro. Dá-lo e ficar à espera do troco. As sinapses todas a gritar BRING IT ON, BITCH! na arena do meu córtex pré-frontal. Até que alguém nos separe. (Por favor, alguém nos separe!)

No entanto, por razões técnico-biológicas, não sei o que é dar um murro valente e ficar de pé nos 5 segundos seguintes para contar como foi. Nunca ninguém do meu tamanho se meteu comigo e nunca me meti com ninguém do meu tamanho. Sempre gostei de pensar em grande, muito grande. Dimensões mastodônticas, de preferência.

Não é violência - isso é coisa de cobardes.
E o Camilo que trago no ventrículo esquerdo diz-me que nunca este punho se ergueu que não fosse em defesa de um honra qualquer - a minha, a da amiga, a da mãe, a do direito e ter o peso e a cara que me calharam em sorte.

Descubro-me, às vezes, nas saudades das coisas mais estranhas.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

As birras

não me assustam. Muito pelo contrário! Adoro uma boa birra! Adoro ver os miúdos a reagir e a lidar com as frustações. Ontem foi dia de birra! A gaiata estava esfomeada, mal humorada e sem a chuchamigo... Foi vê-la chorar, espernear, abraçar-se a mim (com mais força, dizia eu!) e ver as pessoas a reagir. É que o que é engraçado no meio disto é que os adultos não sabem lidar com as birras. Veio a senhora x e mete-se com ela "então, laurinha, que tens tu? porque choras? estás zangada?", e a piolha mais chorava e mais me apertava. Depois vem o y "Ai que vergonha, está tudo a olhar para ti no restaurante" - e aí meti-me eu "E então? Há algum problema? Se querem olhar, que olhem! Desde quando é que chorar é motivo para ter vergonha???". Senhores e senhoras, meninos e meninas, eu sou a Vera e esta é a Laura a fazer uma birra. Muito prazer, agora podem voltar a olhar para os vossos pratos, que não tarda começo a cobrar bilhetes para o espectáculo (esta parte não disse, mas pensei!!!! - assustei-vos, não foi???!!). Colher de sopa goela abaixo e a dona birra vai pregar para outra freguesia, prometendo voltar assim que tiver oportunidade e eu tenho de volta a criança sorridente e que fala alto como tudo! Não a queriam ouvir chorar, agora ouvem o que ela tem para dizer (e não é pouco!!!). Há sempre tema de conversa com esta minha filha, é impressionante! Da salada, salta para o grilo, do grilo para a nancy, da nancy para o cats e por aí fora...
Só há um tipo de birras para o qual não tenho a mínima paciência: sono! Tem sono, dorme! (Se bem que até eu tenho birrinhas de sono de vez em quando... se calhar é mesmo por isso que não gosto delas perto de mim... curioso, hã?).
Tentar parar as birras com "cala-te!", com "vais ficar de castigo!", "se parares de chorar dou-te um chucha-chupa" ou "levas um sopapo" revela a inteligência digna de uma minhoca e corre-se o risco de os miúdos cresceram sem a capacidade de lidar com as adversidades que a vida teima em colocar.
Uma pessoa muito especial ensinou-me isto - as birras mandam-se embora com mimo - e eu acredito nisto com todas as minhas forças, com a maior das convicções!
Por isso, quando elas aparecem eu agarro-as e trato delas com beijinhos repenicados, com abraços apertados, com festinhas mimentas, com esfreganços nas costas, com enrolanços de madeixas de cabelo e com "amo-te no matter what, forever and ever".




terça-feira, 3 de julho de 2012

Perder um bebé

ou não os conseguir ter quando se quer. É este o meu tema para hoje. Como estão fartinh@s de saber, adoro viajar por essa blogoesfera de mães, pais e bebés. Há relatos impressionantes de dor, de sofrimento e de luta inacreditáveis. Quando descobri que estava grávida nunca me passou pela cabeça que alguma coisa poderia correr mal. Passei a gravidez o mais feliz que podem imaginar. Aceitei as dores nas costas, as más posições para dormir, a baba que ensopava a almofada toda (sim, as grávidas produzem saliva como o caraças), os vómitos que duravam o dia e a noite, os tornozelos inchados e solucionei o facto de já não conseguir apertar os atacadores, usando chinelos, tudo com uma felicidade imensa. Porque fazia parte. O bebé estava bem e era só isso que interessava. Mas também me lembro que mal ela nasceu, estiquei o pescoço, vi-lhe os pézinhos e só continuei a respirar depois de contar 1,2,3,4,5 - 1,2,3,4,5 - OK! Tem os dedos dos pés todos! Se ficasse grávida agora, acho que ia ser uma stressadinha de primeira, confesso. Começo a falar sobre a gravidez e perco-me... onde é que eu ia mesmo???
Ah... decidi escrever sobre este tema porque quero aqui publicamente dizer que compreendo essa dor, mesmo quando são gravidezes de poucas semanas, e é apenas um feijão. Mas é um feijão que já se ama antes de existir. E quando vejo grávidas que já odeiam tudo o que a criança que carregam significa, dá-me uma tristeza, seguido de uma raivinha, seguido de uma invejazinha do género "não queres, não sabes amá-lo, dá cá que eu amo e cuido!"...
E agora vou-me calar que já estou cheia de sono e já nem sei o que digo!