terça-feira, 11 de setembro de 2012

sobre o 15 de Setembro

dia 15 de Setembro vamos todos para a rua. já não há mais desculpas. é um sábado, ao final do dia. primeira razão para que não haja desculpas de pessoas que não podem / não querem faltar ao trabalho por mais uma greve com sentido supostamente questionável. agora não, agora temos todos de sair à rua. não interessa se somos de esquerda ou de direita. se costumamos ou não costumamos ir a manifestações. aliás nem interessa se votamos neste governo ou se nos dia das eleições não fomos votar. apesar de apelar sempre e incondicionalmente ao voto, mesmo que não votemos em ninguém, acredito que a abstenção é também um sinal de descontentamento. que não leva a lado nenhum, é certo, mas uma marca de desânimo.

a diferença desta manifestações para as anteriores é que o que se está a passar está infiltrado na nossa vida. daí fazer todo o sentido que esta manifestação se chame "queremos as nossas vidas". porque as pessoas andam tristes. mais tristes, desanimadas. de repente o que antes era uma mera questão política começou a entrar na nossa vida, na nossa forma de estar, nas razões que nos fazem custar acordar de manhã. aliás, minto. isto não acontece a toda a gente. acontece às "minhas pessoas", quase a todas. porque há uma classe privilegiada que não está a sofrer o mesmo que nós. porque se a mim me tiram mais 7% para uma segurança social esclerosada noto a diferença em cada um dos meus dias. se a quem ganha milhares por mês lhes for tirada a mesma percentagem o estrago é menor. portanto não me venham falar de que todos temos de sofrer os cortes. como dizia josé gil só existem três classes hoje em dia: desesperados, ameaçados e privilegiados. mas claro que não posso deixar de referir que bonito é ver que mesmo os privilegiados saem também à rua em defesa dos que não o são. porque, vou afirmar mais uma vez, isto não é só sobre nós. isto é sobre o país onde (ainda) vivemos. sobre as crianças que vêm aí. de repente, não sei se repararam, mas começámos a viver num país sub-desenvolvido. onde as crianças não têm direito a tratamento individual nas escolas onde o sistema de saúde roça o terceiro-mundismo. onde se tira dinheiro a quem não tem, onde quem tem pouco paga pelos que têm muito. onde as empresas são beneficiadas na esperança de um dia darem trabalho mas quem tem ordenados miseráveis vê o seu rendimento mensal cortado, logo o consumo diminui e a economia colapsa. onde, e a cima de tudo, quem tem dinheiro safa-se, quem não o tem trama-se. a todos os níveis, saúde, educação.


por fim gostava de referir uma última questão. tenho um bom trabalho, um contrato sem termo (se bem que hoje em dia isso não vale quase nada) e um ordenado razoável. no entanto o que esse ordenado razoável me permite é ter uma casa sozinha numas águas furtadas nos Poiais de São Bento, contas e comida, umas garrafas de vinho para se tiver visitas, comprar 2 a 4 livros por mês, 1 a 2 jantares fora por mês, telemóvel e gasolina e, às vezes, uma prenda de aniversário ou outra extravagância do género. não podemos entrar em miserabilismos. eu não me quero ter de defender com o "eu também ganho pouco" e ser acusada de ser gastadora por quem ganha o ordenado mínimo. a grande diferença entre mim e quem ganha esses ordenados vergonhosos e que eles nem independentes podem ser. e eles não são poucos. são milhares. milhares de pessoas que não podem ter uma casa própria. milhares de famílias que se mantêm unidas por questões financeiras. não quero que nesta luta interesse quanto ganho eu ou quanto ganha o vizinho do lado. interessa que vivemos uma época em que estamos a ser roubados sem precedentes. a pagar uma dívida que não é nossa. e pior, a sacrificar quem não pode ser sacrificado, quem não tem mais por onde dar, enquanto vemos quem pode a fazer tudo por proteger o seu quintal. sem perceber que isto vai, mais tarde ou mais cedo, afectar toda a gente. porque estamos a tornar-nos um país doente, um país triste, um país que se quer ir embora.

amigos, só sobramos nós. a nossa voz e a força do que somos em grupo. sábado, às 17h, encontramo-nos na Praça José Fontana. se não temos mais nada temos a nossa voz em coro.

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