quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

"Se os sem-abrigo aguentam porque é que nós não aguentamos?"

Neste momento, tendo em conta a minha boa educação, ainda não consigo comentar tal barbaridade...

Ainda não consigo descrever a tareia monumental que dava a esta coisa, se me cruzasse com ela na rua...

http://expresso.sapo.pt/ulrich-se-os-sem-abrigo-aguentam-porque-e-que-nos-nao-aguentamos=f783682

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Afinal ir ao dentista é pior que ir cortar o cabelo


Sábado fui ao dentista. Entreguei a L. à avó e lá fui para a paragem do autocarro... tanto tempo de espera e nada... claro! Não há aquela carreira aos fins de semana. Piursa da vida e a resmungar com a carris lá apanhei um autocarro para o metro e mais uma troca de linha e mais um passeio por um descampado e cheguei.
Cheguei mesmo em cima da hora e fui logo atendida. Um dos sisos estava-me a dar cabo do juízo. Ou se desvitalizava, mas sem garantias de sucesso - raízes esquisitas e mais não sei o quê - ou se extraía. Saltei logo da cadeira. É que nem pensar. Agora arrancar-me um dente. "ah eu também já tirei os meus quatro, só dão chatices", não, não, nem pensar, dizia eu. "Mas sai-lhe mais barato de certeza". Ok, bora lá.
No que me fui meter. O raio do dente não queria sair nem por nada. As minhas pernas tremiam. Só pensava "Caramba, Vera, já pariste uma criança e não custou nada e estás aqui neste estado de nervos! Controla-te, mulher!!". Enquanto o dentista ia trocando de instrumento, eu ia-lhe perguntando coisas "Rolhe lá, nunca inguém quesmaiou (tenho quase a certeza que me ia babando ao mesmo tempo)". Sim, às vezes acontece. Ainda lhe agarrei o pulso, quando ele me espetou um dos instrumentos de tortura com mais força. O sacana do dente saiu e ele decidiu coser-me. E eu aí paniquei da maneira mais absurda que existe. Pus na cabeça que ele me ia coser os lábios. Só descansei quando ele acabou e eu me agarrei à boca. Era sangue por todo o lado e eu devia estar branca com a neve.
Saí e a senhora da recepção perguntou-me se eu tinha ido só fazer a destartarização. "Rão, im tirá um enteeee!!!" (ursa, bastava olhar para a minha cara e perceber tudo!)
Saí do edifício e liguei ao R. a chorar desalmadamente para lhe perguntar se ele me podia vir buscar. Não estava com vontade de apanhar transportes públicos e ir a cuspir sangue o tempo todo. Ainda pensei em atravessar o descampado e apanhar um taxi. Mas depois ele ia querer saber para onde é que eu queria ir e eu ia dizer e ele não ia perceber a minha nova maneira de falar e eu ia-me enervar, e não choro à frente de qualquer pessoa e depois ele ia olhar pelo retrovisor e lá estava eu, cheia de sangue na boca, feita vampira, a fazer força para não chorar. Além disso, eu tinha acabado de poupar dinheiro. Não o ia desperdiçar num táxi. O R. veio. Abriu-me a porta, olhei para ele, encostei a minha cabeça no ombro dele e desatei a chorar. Parecia que me tinham tirado um rim. Ele lá disse uma piadola, eu ri-me e depois chorei o caminho todo de regresso a casa. Enfiei-me na cama com gelo encostado à bochecha e chorei, chorei, chorei. Acabei por adormecer. Acordei e vi "A vida de Pi", deitada na cama. Chorei baba e ranho. Depois vi o filme do Woody Allen (o de Roma) e só não chorei a rir, porque a minha cara não aguentava qualquer tipo de expressão facial. Comi sushi que o R. me trouxe, partidinho em mil bocadinhos para não ter que mastigar.
Passei a noite cheia de dores e de frio, agarrada ao gelo e a contar as horas para tomar o analgésico.
Domingo a L. regressou a casa e quando me viu disse-me "Ai mãe, estás tão feia. Mas não faz mal, porque tu és bonita". Depois quis saber tudo e se eu tinha sangue. E se eu podia abrir mais a boca para ela espreitar lá para dentro. Ao menos que isto faça as alegrias de alguém!
Hoje continuo com uma terceira bochecha, tenho dores que não lembra ao diabo na boca toda, continuo sem conseguir comer, já gritei com toda a gente cá de casa e ainda me falta tirar outro siso.
E pronto, isto tudo para vos dizer que ando meio desaparecida, para vos explicar porque tenho um alto na bochecha, porque falo de maneira esquisita e porque é que tenho olheiras até aos pés.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

That´s my girl

- Oh mãe, os meninos "guzam" comigo na escola...
- "Gozam"!
- Tu não percebes! Eles "guzam" comigo por causa d...
- "Gozam". Não é "guzam".
- Eles gozam comigo por causa do meu sinal no olho.
- Gozam, como?
- Ah a L. tem uma coisa no olho!
- Tu sabes que cada pessoa, cada criança tem as suas particularidades. São coisas que nos tornam únicos e especiais, blá blá blá blá blá blá e tu és linda, não ligues.

Na manhã seguinte, quando a fui deixar na escola, diz-lhe o B.:
- Ahhhh a L. tem uma coisa no olho!

Diz a L.:
- Cala-te estúpido! É sexy!

E lá se foi sentar toda altiva e orgulhosa da sua marca no olho.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Viva a Rosa!

Ser lolita é construir, é pensar, é ser-se extraordinário!

Parabéns, Rosa!

Roubado ao Notícias Magazine

http://www.facebook.com/photo.php?fbid=317944524991477&set=a.213418002110797.45101.192773117508619&type=1&theater


"A vontade de gravar audiolivros, de fazer ouvir o que está escrito a quem não consegue ver ou reconhecer as letras levou-a a criar o projeto LEVA ler em voz alta. Rosa Azevedo é a Portuguesa Extraordinária que se segue."



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Come a sopa! (canja nunca mais!!!!)


- Então, Pipoca, que aprendeste hoje na escola?
- Hum... nada, mãe.
- Nada? - Come a sopa!
- Só brinquei, brinquei, brinquei...
- Ah e a brincar não se aprende?
- Estás-me sempre a dizer isso. Conta-me tu primeiro como foi o teu dia.
- Está bem. - Come a sopa! - Então, apanhei o autocarro, blá, blá, blá e depois fui almoçar com a I.
- Comeste sopa, mamã?
- Comi sim. Adivinha lá qual foi. - Come a sopa, Laura!
- Espinafres?
- Não.
- Creme de cenoura?
- Também não. Foi canja. - Come a sopa, ai!
- Ah canja... gosto tanto.
- Pois foi. Canja de galinha.
- De g-a-l-i-n-h-a???!!! Tu comeste canja de galinha? Nem quero acreditar. A E. hoje contou-nos uma história de terror.Foi, foi. De terror. Havia uma galinha que dava ovos de ouro. Ouro verdadeiro. E o dono dela era tão mau, tão ganancioso que lhe abriu a barriga para ver se havia mais ovos. A sério, mãe.Zás, zás, abriu-lhe a barriguinha. E claro que não havia ouro. É tão triste. É mesmo um filme de terror. Podiam ter sido todos felizes, se calhar até nasciam pintainhos dourados. É tão tristeeee. Mesmo, mesmo triste. Que é que foi, mamã? Porque é que estás com essa cara? Come a sopa!
- Dá cá a tua. As sopas já estão frias... vou aquecê-las... ainda bem que era só uma história, não é fofinha?
- Ainda bem que não é a sério que é para eu não ter pesadelos.
- Ainda bem, filha!

Depois do jantar, já na caminha cantámos juntas baixinho "I can see clearly now the rain is gone" e a minha mais que tudo adormeceu feliz e em paz.

Caramba! Já nem me lembrava que esta história existia. Acho que quem vai ter pesadelos sou eu - não consigo parar de visualizar uma galinha toda esventrada por um mauzão qualquer...


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

I promise II


A Essi foi apanhada quase com 4 meses, numa carpintaria. Trataram-na mal a ela e aos outros 2 irmãos. Ficámos com ela e conseguimos encontrar donos para os outros cachorros.
Nunca tinha visto a luz do dia e tinha um medo de morte de sair de casa sem ser já noitinha. Tinha os ouvidos cheios de serradura e estava cheia de pulgas. Não sabia beber água. Nem brincar - imaginem, ter que ensinar um cachorro a brincar. Qualquer movimento mais brusco, qualquer palavra mais alta e ela encolhia-se.
A Essi é filha de um border collie e de uma rafeirita, minorca, esquisita, desdentada, que era tão doce, tão meiguinha que lhe chamámos Bombom e que morreu pouco tempo depois de ter os bebés.
Levámo-la a uma escola de cães (por acaso, acho que é mais uma escola para os donos), para ajudar a bicharoca a perder o medo de tudo e de todos. As primeiras semanas foram difíceis como tudo. A Essi não queria estar ali. Só puxava para a porta de saída. Não fazia mais nada. Eu ganhei um músculo fantástico no braço direito de tanto esticanço que levei. Até que um dia, sem nada o prever, esticou a cauda para fora e sentou-se a olhar para mim. E eu disse-lhe "Essi, junto!". E ela caminhou ao meu lado. E passou a obedecer a tudo o que eu lhe pedia. Fora dos treinos, era mais complicado. Tinha medo de todos os cães, excepto do Bob, de quem se tornou muito cúmplice.
Agora a Essi tem 10 anos. Nunca teve doente. Só uma vez é que andou com uma pata ligada porque andou a imitar as cabras montesas na serra de Sintra e uma das acrobacias correu-lhe menos bem.
Já não se encolhe de cada vez que mexo na esfregona, adora ladrar aos vizinhos que teimam em pôr-se à janela e até houve uma vez que nos roubou o jantar da mesa da cozinha. Continua sem saber relacionar-se com outros cães, excepto dentro de casa. Ladra quando alguém chega e se não gosta das pessoas (especialmente vendedores), deixa-os entrar e quando eles tentam sair, ela arreganha os dentes todos e não os deixa passar da porta. É desconfiada e assustadiça, mas defende com unhas e dentes as "pessoas dela". Quando a Laura nasceu, só entrava no quarto quem ela conhecia.
Sai ao pai, quando nos tenta abocanhar as canelas, como se fosse para nos arrumar. O Bob foi o que mais sofreu com as "arrumações", logo ele que detestava que lhe tocassem nas patas.
Ainda gane de maneira aflitiva se alguém lhe toca no cachaço com um bocadinho a mais de pressão, mas é a única cadela que eu conheço que dá abraços tão apertados, tão sentidos, como se fosse uma pessoa.
Deixei de a levar a casa da minha mãe, quando vou visitar o N., porque desde que ela faleceu, a Essi entra, cheira tudo e deita-se à porta do que foi em tempos o quarto da minha mãe. E dali não sai até irmos de volta para o carro.

A Essi também faz parte da promessa.


domingo, 20 de janeiro de 2013

Para que serve a Utopia?


Para caminhar, para caminhar...
Deliremos um pouco, pois todos nós temos o direito ao delírio, e imaginemos um mundo como o Galeano nos convida a criar.
Seremos capazes?

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Do alto dos meus 32 anos

- Sou mãe há seis e não me lembro muito bem do que era antes de o ser
- Não acabei o meu curso
- Quero muitooooooo que este (des)governo se evapore
- Continuo com medo do escuro
- Adoro música, adoro dançar
- Adoro imperiais, mojitos e sangria
- Estou mais do que convencida que sou mais feliz sem televisão
- Gosto de beijinhos e abracinhos mas detesto que estranhos me toquem
- Quando me rio às gargalhadas, às vezes saem sons esquisitos da minha boca e pareço um porco
- Adoro vestidos de verão e passo os meses de mais calor de calças de ganga
- Ir ao cabeleireiro é uma autêntica tortura
- Não consigo acreditar que a minha mãe já não volta
- Adoro jogar matraquilhos, jogos de tabuleiro e wii
- Às vezes precipito-me (como na festa da Rosa, em que tirei um copo de sangria, bebi fiz caretas, comentei que "fogo, está potente" e acabei com o copo escondido atrás das costas quando alguém comentou que não sei quem tinha ido comprar a gasosa
- Só não emigro porque me falta a coragem
- Sou refilona
- Vivi mais de uma década com um diagnóstico mal feito, com medicação que deu cabo de mim e que fez com que tivesse uma gravidez de risco - afinal não era nada disso, pasmem-se, sou saudável
- Tenho sono demasiadas vezes por dia
- Por muito que tente ser forte porque uma Vera só chora de alegria e de saudades, a indiferença e a intolerância doem-me forte cá dentro e deixam-me de rastos
- A minha franja tem vida própria e põe-me doida
- Adoro deitar-me já de manhã, com os passarinhos a cantar lá fora
- Fiz a filha mais espectacular do universo
- Acho piada que as colegas da minha filha não acreditem que sou mãe dela ( o meu 1,5m deve-lhes trocar as voltas)
- Gosto do silêncio
- Tenho imenso orgulho no R. - com ele aprendi que tudo é possível
- Falo imenso com as minhas cadelas sobre tudo
- Defendo com todas as minhas forças que toda a gente tem direito a saúde, educação, comida e tecto
- A caridadezinha repugna-me
- Odeio cozinhar
- No verão durmo com dois edredons
- Maquilho-me, mas passo a vida a coçar os olhos e fico com aquele olhar "esfumado" quando não era essa a intenção
- Aprendi a perdoar
- Uma vez fui comprar 20 rolos de papel higiénico, o saco rompeu-se e fiz parar o trânsito
- Salto em cima de todos os montes de folhas secas com que me cruzo
- Namoro a roseira e o jacarandá do meu quintal todos os dias
- Adoro o piano (e o pianista) cá de casa
- Se me deixarem a árvore de natal fica montada até Agosto
- Adoro sol e chuva
- Adoro a minha vida
- Amo do fundo do meu coração as "minhas pessoas"
- Adoro finais felizes
- Adoro a minha vida.

A segunda promessa que fiz à minha mãe foi cuidar de mim e ser feliz.


lolitas no palácio


domingo, 13 de janeiro de 2013

Das certezas de ser mãe (ai vou-me repetir tanto!)


Partindo de um post que li no blog da doce Maggie...
Acredito que uma mãe preocupada, que questiona a educação que dá aos seus filhos tem tudo para ser uma boa mãe.

Não sei se se me consigo explicar bem, até porque há coisas que nem eu compreendo, mas dias antes de saber que estava grávida, fui "assombrada" por uma mistura de sentimentos. Sentia-me diferente. Pela primeira vez desde que a minha mãe morreu, acordei feliz e com a certeza de que queria ser feliz. Dias depois fiz o teste - ok, foram vários, imensos, todos os disponíveis - e percebi o que estava a sentir.

Ia ser mãe e deixei de ter qualquer tipo de medo. Nunca me passou pela cabeça que alguma coisa fosse correr mal. Nunca tive medo do parto. Foram fundamentais duas coisas que a minha mãe me ensinou "Pode custar um bocadinho, mas ao bebé também custa e o nosso papel é ajudá-lo a nascer" e "É só uma pessoa mentalizar-se que cada contracção que tem, está mais perto de ter o bebé nos braços."
O meu parto demorou 3 horas. E quando o R. me pôs aquela bebecas linda nos braços nunca senti nada parecido com medo. Muito pelo contrário. Senti foi um grande amor e o amor não me assusta!

Sinto todas as certezas do mundo porque sei o que quero e o que posso exigir dela. Exigir-lhe que seja, acima de tudo, feliz. E ser feliz significa ser sensível, não ser indiferente. Significa amar e ser amada.significa que lute pelas coisas que acredita. Significa ter confiança nela e dar-lhe a liberdade de fazer as escolhas dela, dando-lhe a certeza de que estaremos sempre do lado dela.

E digo com toda a certeza que não me arrependo de opções que tomámos. Se ela cai e chora, sempre foi nosso lema dar-lhe a atenção, o abraço e o mimo que precisa. Nem que seja porque se assustou. Se faz birras é porque precisa de as fazer e também optámos por lhe dar o tempo que ela precisa para chorar, com paciência, com colo, com compreensão. E a L. não é nem "mariquinhas" nem "birrenta". É uma menina decidida que já começa a compreender que leva ralhetes porque é o nosso tesouro e queremos o melhor para ela.

Pode parecer lamechas ou demasiado simplista, mas acredito que o ponto de partida (e o de chegada) para educar um filho é o amor. Amá-los e não ter medo nem preguiça de o dizer nem de o demonstrar, nem desvalorizar o que isso significa. É um amor tão forte que me faz acreditar que posso tornar este mundo num lugar melhor. É um amor que me faz feliz, mas tão feliz, que não cabe em lado nenhum. É um amor que me faz rir. É um amor que faz com que fiquemos a admirá-la enquanto dorme, apesar de termos às costas o peso de um dia duro no trabalho e de ela ter feito birrinha para dormir.

O lugar que esta criança ocupa nos nossos corações, como alimenta o nosso mundo é de um poder, de uma imensidão, incalculáveis. É maravilhoso, é extraordinário, é o amor a acontecer.

Os conselhos que pedi - e que peço, as histórias que ouvi - e oiço, os livros que li - e leio, os comentários que ouvi - e oiço, fazem de mim a mãe que sou hoje. Boa ou má mãe? Não sei. Que amo a minha filha mais que tudo no mundo? Que lhe digo isso vezes sem fim? Que a beijo e abraço vezes sem conta? Que fico maravilhada cada vez que olho para ela e me lembro que fomos "nós" que a fizemos? Que aprendo coisas novas com ela todos os dias? Que ela me diz, sempre a sorrir, que é feliz? Que a oiço e ela me ouve a mim? Que tenho imenso orgulho dela? Que tenho saudades dela desde o momento em que a entrego na escola? Que nada na minha vida como mãe é um sacrifício? Sem dúvida que SIM!


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Sei lá, tipo...

O anúncio da samsung começa por disparar palavras como amor, saúde, alegria e depois aparece uma miúda que nem falar sabe, cujo seu desejo para 2013 é ter uma mala, tipo, daquelas clássicas.

A minha miúda tem 5 anos. O desejo da minha miúda para 2013, com os olhinhos a brilhar e a encostar com toda a força, as mãos pequeninas ao peito, é que toda a gente no mundo inteiro seja feliz.

No fundo acho que, tipo, sei lá, chego a ter pena da Pépa... nunca ninguém lhe ensinou a ser uma pessoa de verdade.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

I promise!


Tinha uns 13 ou 14 anos e queria muito ter um cão. Mesmo, mesmo muito. Chateei a minha mãe até ao desespero. Consegui convencê-los, com a condição de ser um cão de um canil, porque estava fora de questão pagar para ter um animal, com tantos a precisar de um lar. Ligámos para uns quantos canis, não tinham cachorros para dar e eu queria um cachorro. Um dia tivémos que ir a um centro de cópias, num centro comercial que eu nem sabia que existia. Num corredor escuro existia uma loja de animais. Um cachorro peludinho numa jaula. Awwww vamos só dar-lhe um miminho. Saltou para cima de nós. E nunca mais voltou para a jaula.
Bob Marley era o seu nome. Peludo, fofinho, beijoqueiro, mariquinhas, com um feitio de meter medo ao susto. Tinha que ser penteado todos os dias para não ter nós. Se sem querer lhe puxávamos o pêlo, era mordidela na certa. Se o pisávamos sem querer, pumba, dentada no pé.
Éramos inseparáveis. Toda a gente o conhecia. Entrava em todo o lado: nos cafés, supermercados, farmácias e às vezes ia comigo para a escola. Se não lhe puxassem o pêlo era a doçura em forma de cão.
E se os senhores das portagens não estendessem a mão para o carro - disso ele também não gostava e ladrava e rosnava e pregava altos cagaços aos senhores da brisa. Uma vez atacou o carteiro. Uma vez, não! Duas. Primeiro fez-lhe xixi no saco. Fiquei para morrer. Pedi imensas desculpas e fui buscar um pano para limpar. Foi uma trapalhada que nem queiram saber! Da segunda vez, atirou-se-lhe ao saco das cartas e arrancou-lhe uma alça. Desde esse dia o carteiro tocava à campainha e fechava-se no elevador à espera que fossemos assinar os registos...
Quando eu saía à noite e ele ficava sozinho, espalhava o lixo pela casa toda e ainda tinha o requinte de deixar o filtro do café (e o café) bem espalhado à porta do meu (nosso) quarto.
Amuava e virava-me o focinho quando o levava às vacinas. Escondia-se debaixo da cama quando alguém ousava dizer "banho" e ria-se para as fotografias. Na praia não brincava na areia molhada. Não gostava de água, mas era muito asseado. Se via um cócó na rua, desviava-se. Também era muito vaidoso. Tinha orgulho em ser o cão que era. Levantava a pata de tal maneira airosa para fazer xixi que, na maior parte das vezes, caía e batia com o queixo no chão. Se dava um pum, escondia-se atrás dos cortinados, envergonhado. Se o prato da água tivesse um grãozinho de pó a flutuar, sentava-se amuado à espera que alguém a mudasse. Num verão quentíssimo, cortámos-lhe o pêlo. Ia apanhando uma pneumonia e nós apanhámos, para além de um grande susto, um grande raspanete do veterinário, porque cães daqueles não se tosquiam. Precisam do pêlo para se protegerem. Detestava a maior parte dos cães com que se cruzava, mas adorava gatos. Uma vez raspou o "material" todo num muro, porque queria brincar com o gatinho que estava a passar. Durante mais de uma semana tivémos que lhe besuntar os tintins com um creme cor de rosa. E ele adorava. Ria-se quando eu me ria e lambia-me as lágrimas quando eu chorava. Dançava comigo.
Quando a minha mãe foi internada, enviava-lhe fotografias nossas e isso fazia-a rir. Uns dias antes de morrer, estava eu sentada à janela no quarto do hospital e ela chamou-me. Fez -me prometer duas coisas. Uma delas era tratar dos nossos cães para todo o sempre.
No dia em que a minha mãe morreu, adormeci com ele aninhado no meu pescoço. Quando acordei, ele continuava lá. Ao meu lado. Mudámos de casa. Todos. Aos fins de semana íamos passear ao Guincho e à Serra de Sintra. Como sempre o fizémos. O Bob deixou de ser rezingão e passou a ser um dos cães mais afáveis que alguma vez conheci. De cada vez que comprava uma peça de roupa para a Laura ele cheirava-a e abanava o rabo. De repente, ficou doente. Tinha leishmaniose desde os 7 anos e com a medicação estava tudo controlado até ali... Foi num ápice. Deixou de comer, perdeu peso, deixou de brincar. Fui deixá-lo a soro numa manhã e quando voltei à tarde ele já não me reconheceu. Assinei o maldito papel. Não me deixaram agarrar-lhe a pata enquanto ele ia para as estrelinhas. Estava bem grávida e bem transtornada. Comecei com contracções e levei um ralhete do meu médico. Repouso absoluto! Disse-me que "era só um cão".
Não, não era só um cão. Era o Bob. O meu Bob. A minha promessa.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

coisas que me irritam (em constante actualização)

a casa dos segredos
que sejam preconceituosos com escritoras mulheres
que digam que manteiga magra é manteiga
que digam que beber vinho faz mal
que seja preconceituosos com musicais
que digam que já começa a ser tarde para ter filhos
que digam que beber água faz mal
o paulo portas 
que deitem fora a água dos cogumelos enquanto estão a cozinhar
pessoas que dizem que "lêem muito", que é um "vício"
aquelas saias da moda com uns folhos na cintura
que usem mais do que um diminutivo por frase
que digam que as crianças são sobredotadas porque não gostam da escola
comentários no blog a divulgar outros blogs
a frase "o que tens feito?"
afirmar que o leite faz mal a toda a gente
dizerem que a comida está boa mas se fosse feita de outra forma era melhor
que me digam para largar o telemóvel assim que agarro nele
assumir um facto que se desconfia como sendo absolutamente certo
que olhem para o que estou a comer
que digam que não podemos falar mal de um livro se não o lemos
livros encomendados
que me digam que estou magra demais
arquitectos
pessoas que não lêem porque não têm tempo
a frase "não sabias isso?? a sério??" 
que sejam preconceituosos com o dourado
pessoas que sabem que não podem ir a um sítio e dizem "vou tentar aparecer depois digo qualquer coisa"
pessoas com o "bichinho da leitura"
comida sem sabor porque o sal faz mal 
a conversa do "eu é que tenho culpa, tu tens a razão toda, eu sei, mas estou a sofrer muito..."
que me corrijam erros quando sei que não é um erro
que não me respondam a sms com perguntas
chuveiros sem pressão
o lol
que sejam preconceituosos com escritores hispano-americano
gente que acha que ipods, ipads, iphones é tudo a mesma coisa
as pessoas que acham que os desempregados não querem trabalhar
fotografias de casais no perfil do facebook
que me digam para fazer "qualquer coisa simples" para o jantar
bolonhesa de soja
que me respondam apenas à segunda parte do sms
que achem normal ver a casa dos segredos
duche morno
que se zanguem comigo e digam "não quero falar sobre isso, ok?"
cogumelos de lata
o lol (já disse?)


era um par de estalos tão bem metido a cada pessoa que me fizesse cada uma destas coisas...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Chega mais um ano e com ele novas resoluções (actualizado)



Pois é, sobrevivemos a mais um ano e entrámos agora num outro, desta vez ímpar (são os melhores, segundo dizem, outros são de opinião contrária). Este ano não se avizinha fácil, parece que vamos que ter apertar o cinto (confesso que nunca percebi esta expressão, nunca vivi de cinto largo...).

Mas comecei 2013 divertida e com pessoas que adoro. Trocámos o champanhe por sangria de espumante, não usei as tradicionais cuecas azuis ou vermelhas, fizemos a nossa própria contagem (a oficial foi demasiado cedo) e as passas foram resoluções públicas, uma a cada badalada.

Pode ser que assim o ano corra melhor.

1. Estar mais atenta.
2. Ser mais companheira.
3. Ser menos crítica.
4. Ser mais compreensiva.
5. Acordar mais cedo.
6. Ceder menos à preguiça.
7. Ouvir mais música, ver menos tv.
8. Não deixar os trabalhos para a última da hora.
9. Ser mais organizada e mais disciplinada.
10. Comer mais sopa ou vegetais ou sopa com vegetais. Aprender a fazer tricot.
11. Controlar as hormonas.
12. Não deixar que as notícias me tirem o sono.

Bom 2013 minhas amigas.
Será este o melhor de todos até agora.
Vão ver...