segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Afinal ir ao dentista é pior que ir cortar o cabelo


Sábado fui ao dentista. Entreguei a L. à avó e lá fui para a paragem do autocarro... tanto tempo de espera e nada... claro! Não há aquela carreira aos fins de semana. Piursa da vida e a resmungar com a carris lá apanhei um autocarro para o metro e mais uma troca de linha e mais um passeio por um descampado e cheguei.
Cheguei mesmo em cima da hora e fui logo atendida. Um dos sisos estava-me a dar cabo do juízo. Ou se desvitalizava, mas sem garantias de sucesso - raízes esquisitas e mais não sei o quê - ou se extraía. Saltei logo da cadeira. É que nem pensar. Agora arrancar-me um dente. "ah eu também já tirei os meus quatro, só dão chatices", não, não, nem pensar, dizia eu. "Mas sai-lhe mais barato de certeza". Ok, bora lá.
No que me fui meter. O raio do dente não queria sair nem por nada. As minhas pernas tremiam. Só pensava "Caramba, Vera, já pariste uma criança e não custou nada e estás aqui neste estado de nervos! Controla-te, mulher!!". Enquanto o dentista ia trocando de instrumento, eu ia-lhe perguntando coisas "Rolhe lá, nunca inguém quesmaiou (tenho quase a certeza que me ia babando ao mesmo tempo)". Sim, às vezes acontece. Ainda lhe agarrei o pulso, quando ele me espetou um dos instrumentos de tortura com mais força. O sacana do dente saiu e ele decidiu coser-me. E eu aí paniquei da maneira mais absurda que existe. Pus na cabeça que ele me ia coser os lábios. Só descansei quando ele acabou e eu me agarrei à boca. Era sangue por todo o lado e eu devia estar branca com a neve.
Saí e a senhora da recepção perguntou-me se eu tinha ido só fazer a destartarização. "Rão, im tirá um enteeee!!!" (ursa, bastava olhar para a minha cara e perceber tudo!)
Saí do edifício e liguei ao R. a chorar desalmadamente para lhe perguntar se ele me podia vir buscar. Não estava com vontade de apanhar transportes públicos e ir a cuspir sangue o tempo todo. Ainda pensei em atravessar o descampado e apanhar um taxi. Mas depois ele ia querer saber para onde é que eu queria ir e eu ia dizer e ele não ia perceber a minha nova maneira de falar e eu ia-me enervar, e não choro à frente de qualquer pessoa e depois ele ia olhar pelo retrovisor e lá estava eu, cheia de sangue na boca, feita vampira, a fazer força para não chorar. Além disso, eu tinha acabado de poupar dinheiro. Não o ia desperdiçar num táxi. O R. veio. Abriu-me a porta, olhei para ele, encostei a minha cabeça no ombro dele e desatei a chorar. Parecia que me tinham tirado um rim. Ele lá disse uma piadola, eu ri-me e depois chorei o caminho todo de regresso a casa. Enfiei-me na cama com gelo encostado à bochecha e chorei, chorei, chorei. Acabei por adormecer. Acordei e vi "A vida de Pi", deitada na cama. Chorei baba e ranho. Depois vi o filme do Woody Allen (o de Roma) e só não chorei a rir, porque a minha cara não aguentava qualquer tipo de expressão facial. Comi sushi que o R. me trouxe, partidinho em mil bocadinhos para não ter que mastigar.
Passei a noite cheia de dores e de frio, agarrada ao gelo e a contar as horas para tomar o analgésico.
Domingo a L. regressou a casa e quando me viu disse-me "Ai mãe, estás tão feia. Mas não faz mal, porque tu és bonita". Depois quis saber tudo e se eu tinha sangue. E se eu podia abrir mais a boca para ela espreitar lá para dentro. Ao menos que isto faça as alegrias de alguém!
Hoje continuo com uma terceira bochecha, tenho dores que não lembra ao diabo na boca toda, continuo sem conseguir comer, já gritei com toda a gente cá de casa e ainda me falta tirar outro siso.
E pronto, isto tudo para vos dizer que ando meio desaparecida, para vos explicar porque tenho um alto na bochecha, porque falo de maneira esquisita e porque é que tenho olheiras até aos pés.


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