terça-feira, 22 de janeiro de 2013

I promise II


A Essi foi apanhada quase com 4 meses, numa carpintaria. Trataram-na mal a ela e aos outros 2 irmãos. Ficámos com ela e conseguimos encontrar donos para os outros cachorros.
Nunca tinha visto a luz do dia e tinha um medo de morte de sair de casa sem ser já noitinha. Tinha os ouvidos cheios de serradura e estava cheia de pulgas. Não sabia beber água. Nem brincar - imaginem, ter que ensinar um cachorro a brincar. Qualquer movimento mais brusco, qualquer palavra mais alta e ela encolhia-se.
A Essi é filha de um border collie e de uma rafeirita, minorca, esquisita, desdentada, que era tão doce, tão meiguinha que lhe chamámos Bombom e que morreu pouco tempo depois de ter os bebés.
Levámo-la a uma escola de cães (por acaso, acho que é mais uma escola para os donos), para ajudar a bicharoca a perder o medo de tudo e de todos. As primeiras semanas foram difíceis como tudo. A Essi não queria estar ali. Só puxava para a porta de saída. Não fazia mais nada. Eu ganhei um músculo fantástico no braço direito de tanto esticanço que levei. Até que um dia, sem nada o prever, esticou a cauda para fora e sentou-se a olhar para mim. E eu disse-lhe "Essi, junto!". E ela caminhou ao meu lado. E passou a obedecer a tudo o que eu lhe pedia. Fora dos treinos, era mais complicado. Tinha medo de todos os cães, excepto do Bob, de quem se tornou muito cúmplice.
Agora a Essi tem 10 anos. Nunca teve doente. Só uma vez é que andou com uma pata ligada porque andou a imitar as cabras montesas na serra de Sintra e uma das acrobacias correu-lhe menos bem.
Já não se encolhe de cada vez que mexo na esfregona, adora ladrar aos vizinhos que teimam em pôr-se à janela e até houve uma vez que nos roubou o jantar da mesa da cozinha. Continua sem saber relacionar-se com outros cães, excepto dentro de casa. Ladra quando alguém chega e se não gosta das pessoas (especialmente vendedores), deixa-os entrar e quando eles tentam sair, ela arreganha os dentes todos e não os deixa passar da porta. É desconfiada e assustadiça, mas defende com unhas e dentes as "pessoas dela". Quando a Laura nasceu, só entrava no quarto quem ela conhecia.
Sai ao pai, quando nos tenta abocanhar as canelas, como se fosse para nos arrumar. O Bob foi o que mais sofreu com as "arrumações", logo ele que detestava que lhe tocassem nas patas.
Ainda gane de maneira aflitiva se alguém lhe toca no cachaço com um bocadinho a mais de pressão, mas é a única cadela que eu conheço que dá abraços tão apertados, tão sentidos, como se fosse uma pessoa.
Deixei de a levar a casa da minha mãe, quando vou visitar o N., porque desde que ela faleceu, a Essi entra, cheira tudo e deita-se à porta do que foi em tempos o quarto da minha mãe. E dali não sai até irmos de volta para o carro.

A Essi também faz parte da promessa.


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