terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

manifesto

queridas lolitas,
queridos visitantes deste blog,

em conferência com algumas lolitas decidimos fazer uma éspecie de manifesto do blog visto que quase nenhuma das queridas lolitas escreve aqui, o que não pode ser. é feio.

razões para uma lolita escrever neste blog:
- porque sim
- porque tem alguma coisa para dizer
- porque não tem nada para dizer
- porque tem que desabafar e escrever é sempre melhor para organizar a cabeça
- porque é piegas e gosta de o ser
- porque tem coisas bonitas bonitas para dizer e em vez de se ficar pelas lolitas ao ouvido vai a mais ouvidos ou olhos
- porque tem uma imagem para mostrar
- porque tem aquela foto para mostrar
- porque ouviu aquele disparate no autocarro que tem de partilhar
- porque está indignada e furiosa
- porque sim outra vez
- porque é bom falar e escrever e dizer coisas, queremos lá saber da forma


somos as lolitas não um desfile de piadas e literatura!

temos as palavras na nossa mão, é só usa-las. ou escrevê-las.

Para as Lolitas rirem

Ontem, estava o pai da piolha a conversar sobre música:
- E este é?
- Não sei...
- O Zecaaaaa...
- Zeca Careca!!!!

Conversava eu com a piolha sobre música:
- E este é?
- Não sei...
- O Zé Mário Brrrr...
- Zé Mário Brasileiro!

Conversávamos sobre o dia de hoje da piolha:
- E amanhã vais passear onde?
- Não sei...
- Ao Pavilhão do Co...
- Co...
- Co-nhe...
- Co-nhe...
- Co-nhe-ciii...
- Co-nhe-cigano!

E assim foi o nosso serão, repleto de adivinhas e gargalhadas! E foi tão bom!


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A minha maior vergonha será dizer à minha filha que o amor hoje não venceu

Depois do que se passou hoje, como é que vou explicar à Laura que há tios e tias dela que querem ter filhos, mas há quem não lhes permita essa felicidade.
Como é que lhe explico que há pessoas que se amam, mas que não lhes é permitido serem mães ou pais.
É que, ao contrário do que muita gente acha, as crianças não nascem más e não são preconceituosas. As crianças acreditam no amor acima de tudo.
As crianças precisam de afecto, de carinho, de segurança. E esse tipo de sentimentos são de seres humanos para seres humanos, sejam homens ou mulheres.
Como é que se explica a uma criança que é preciso legislar o amor? Que os direitos não são iguais para toda a gente? Que vivemos num pais de gente ignorante, intolerante, mal amada e que no fundo disto tudo, o interesse das crianças vale zero. Porque se valesse tudo, se estivessem em primeiro lugar, nem seria necessário um parlamento estar a discutir a adopção. As crianças seriam adoptadas por quem delas quisesse cuidar há já muito tempo!
O que sinto hoje é vergonha. Vergonha por ter que explicar a uma criança de 4 anos que o amor hoje não venceu! E nós que sempre lhe demos a viver exactamente o contrário!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Nós (vai ser piroso!)

As Lolitas. Somos de ir às lágrimas. Tanto para rir como para chorar. Somos únicas no mundo. Somos especiais. Refilamos, discutimos, o que é óptimo, porque significa que somos pessoas, mulheres, com vontades e ideias próprias. Mas sabemos celebrar a vida como ninguém. Seguramo-nos umas às outras, como quem segura uma pedra preciosa, ou um cubo de gelo que não pode derreter. Com cuidado, com uma força sobrenatural, uma força de quem crava espinhos no coração. Com uma força que rasga o peito. Mas não dói assim. É uma dor boa, uma dor que me faz gritar de alegria, uma dor boa de quem ama. Uma dor sem limites, mas que não arde.
Quando os filhos e os cães umas das outras adoecem, é ver as lolitas em acção, com mensagens, telefonemas, visitas e mimos. Se uma de nós adoece é ver correntes positivas de fazer parar o tempo. Estamos mesmo quando não estamos. É que quando dói numa, passa a correr nas veias das outras. Se é tristeza numa, passa a tempestade nas outras. Se uma gosta, as outras dão. Se uma fraqueja, as outras seguram. Se é espectacular para uma, é brilho nos olhos das outras. Se é amor, passa a borboletas na barriga das outras. É lindo, é maravilhoso e é meu!


(para quem acha que a falta a eurídice na foto, é olhar bem para dentro do copo... ela está lá escondidinha!)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Círculo da Felicidade

Há uns tempos escrevi um livro para crianças que se chamava O Círculo da Felicidade. Mais do que livro era um jogo para as crianças. Que nasceu com os adultos. O princípio é o mais simples de todos. As crianças pensam em todas as coisas que mais gostam, que as fazem sentir mesmo felizes. Saem as frases mais mirabolantes, os conceitos mais bonitos e também os mais divertidos. Esse livro está pronto, com ilustrador e tudo à espera de ver a luz do dia.

Entretanto às vezes falo nele com pessoas que já não são crianças. E penso nele eu também. E aprendi ao longo destes quatro anos em que o penso a viver a par com o meu círculo da felicidade. A ir buscá-lo a qualquer hora.

Desde que saí do hospital que aconteceram muitas coisas, para além do hospital em si e do efeito da medicação, que me fizeram precisar e pensar muito o meu círculo da felicidade. E vi-o em Sintra quando a R. me ofereceu a Nossa Senhora das Mentes Iluminadas para que a minha cabeça se mantenha quieta com a fé que é a nossa e que se encontra nos labirintos que quiser e na forma que quiser; na L. a gritar ao fundo do corredor quando me sente entrar "tia rosiiiiinha tia rosiiiiinha já não vais mais para o hospital que eu tive tantas tantas saudades tuas"; ontem a trocar segredos com a I. enroladas em mantas e aquecedores e ela dizer que o que nós precisamos é de café com leite condensado (magro claro) e depois de uma razão qualquer para acabar com a lata; ao segurar a S. ao colo que nem dois meses tinha e ficar a ver a cabeça dela aninhar-se no meu pescoço; no ouvir o Fossanova a atravessar o rio sozinha na minha carripana, a caminho do Samouco onde as crianças gritam pela casa e vêm a correr buscar-me à porta e não me saem do pescoço o dia todo; no estar em frente ao mar com a F., a J., o F., o N. deitados na areia e sentir a água do mar passar pelos kgs de roupa que nos vão proteger do frio dessa noite; no ouvir a voz do L. e ter a pele dele ao pé da minha; no ler um texto do Pullman que põe Jesus a falar, revoltado e triste, com Deus e sentir aquela excitação do "caramba..." que nem me deixou dormir; no voltar a escrever um poema mesmo que arranhado e torto; é ontem sair do médico e ter a R. no café; é ouvir o FMI do José Mário Branco depois de vir do LIDL de Odemira e pensar que é mesmo isto.

"Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos!"

A questão é mesmo esta. O Círculo da Felicidade tem um só lado. Não podemos ficar em casa a imaginar que em tempos houve coisas que tínhamos dentro do círculo e que já saíram. Toca a mexer. A procurar. A vida é gigante e o mundo não pode ter fossos onde possamos cair. "Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro."

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Para a grande maioria

sou apenas a Vera ou Verinha. Também sou a pequenina e baixinha (devido muito provavelmente ao meu metro e meio). Sou a Primavera das minhas primas. Sou a Verinha mágica das amigas do peito e a alóe vera quando nos queremos rir de piadas secas. Sou a Veruska da minha mãe, a Verita do Sérgio, a Vé do Rui e a "oh mãe", "mamã" ou "anda cá, se faz favor" da Laurinha. Fui a Vera Verdade do meu professor de filosofia do 11º ano. Ontem fui a Veritxis da Rita...

Amo o meu nome (eu que era fresca quando era miuda, chorava baba e ranho e implorava à minha mãe que me trocasse de nome, porque não tinha músicas com o meu nome). Vera.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

as-mais-que-tudo

São épocas conturbadas, mais difíceis, em que se colocam questões. Mas às vezes a paz é inimiga da vida. Para termos paz podemos parar o tempo numa praia a ver o pôr do sol. De resto precisamos de questionar, sentir o corpo desmembrar-se e voltar aos poucos ao que era dantes. Andar em cima da corda e saber ver o outro lado da corda sem desfocar.
E sobretudo ter a certeza que há braços e braços e braços e braços para nos segurar nas quedas, para nos fazer máscaras e mantas e para dormir no lado vazio da cama. Ter a certeza de que há braços para o silêncio. Mas que também há braços para quando gritamos socorro e que eles não têm tarefas inadiáveis do quotidiano. É preciso saber que às vezes só o curar as feridas pode ser inadiável para que depois não custe mais.
São isso as minhas amigas, que mesmo quando me vêem despistar-me na estrada não me travam o carro mas cobrem a estrada de pétalas de rosa. Que têm a certeza que há uma história boa para mim que é esta e a que há-de vir. Que antes de eu dizer percebem que escondo segredos e que mesmo que nunca os revele, elas nunca se vão esquecer que eu os tive. Que vão ser as mãos que fecham os caixotes das minhas mudanças de vida.
Que aguentam as discussões, as irritações, as incoerências porque o coração não pode fazer isso sozinho.
Vocês são as mais bonitas, as mais chatas, as mais tolerantes, as mais divertidas, as mais irritantes, as mais pirosas, as mais histéricas, as mais comoventes. As minhas mais que tudo.