sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Hoje perdi uma pessoa muito especial

Perdi a minha avó emprestada. Mãe do meu pai emprestado. Uma das pessoas do meu coração. Da família do coração. Estava tudo pensado para apanhar ir visitá-la amanhã com a Laura. Tudo programado. Recebi a notícia e fiquei feita barata-tonta. Toma as chaves do carro, ai não quero, afinal quero, pensando melhor não quero, vou para onde mesmo, fazer o quê mesmo, dizer o quê, tenho lenços suficientes na mala, a camisola não está passada a ferro não posso ir assim...
Ficaram coisas por dizer. Miminhos por dar. Sorrisos por trocar. Os "já tinha 90 anos" que tanto ouvi hoje em nada me tiram a tristeza. Não me secam as lágrimas. Nem me tiram este nó da garganta.
Ficam as saudades. Fica a lembrança de um arroz de pato a fingir que a Laura cozinhava nos pequenos pratos de prata e obrigava a S. a comer. As tendas feitas de lençóis 100% algodão. Os primeiros passinhos naquela sala gigante. Ficam na memória as noitadas de king e o esparregado para me saciar, grávida da Laura. Fica a quadratura do círculo e os elogios ao meu crochet. As histórias sobre Paris e Versailles nunca mais serão as mesmas. Nem a mousse de chocolate terá o mesmo sabor.
Fica o sentimento de perda e o sentimento do que quis dizer e não disse.
Porque dói. Quando se ama, dói. Sejam noventa anos, cem ou mil.
Ainda ali fiquei umas boas horas a observá-la, na esperança de algum sopro lhe sair pela boca. Podia ser uma partidinha, só. Como acontece nos filmes. Nunca tinha ficado assim tanto tempo. Primeiro, passei timidamente e olhei de esguelha. Depois ganhei coragem e olhei. Vi e tornei a olhar. E ali fiquei, como que hipnotizada, em silêncio, a desejar que ninguém me dirigisse a palavra.
Fica a angústia de acordar a meio da noite e não estar lá ninguém.
Nunca tive jeito para perder pessoas. E acho que é um jeito que nunca vou conseguir aprender...


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