tenho a vida toda como ondas irrequietas debaixo dos meus pés. sinto-me a
viajar sem corpo noutro sítio qualquer. pego num livro esqueço-me dele
em cima da mesa. sinto-me como se fosse uma fotografia desfocada. arrumo
a casa como quem arruma o coração. tenho o meu espaço todo no sítio e
um lar onde caibo demasiado bem. e procuro sempre outro sítio para
estar. lembro as amigas da taiândia e alguns momentos em que não queria
estar noutro sítio. talvez esta seja uma ressaca doutros sítios. se
calhar o meu coração não poisou aqui. se calhar o meu coração quer ser
outro e lhe falte a coragem para novos caminhos.
então seguro-me nos ombros e digo: vai. vai para a praia. vai para ao pé
das tuas amigas. deixa a tua casa ganhar saudades. ganha a certeza de
que dali ninguém te tira. que ainda amas a solidão a qualquer custo. que
te tiram tudo mas nunca o amor pela vida. se te faltam as mãos para te
abanar nunca te falta o amor de cem outras mãos. sabes que voltas
domingo e que tens a joana o francisco a raquel o duarte a luísa a
leonor o afonso a teresa a maria e a diana à tua espera. que te vai
faltar o ar de tantos abraços. e vais recordar o dia em que na tailândia
te disseram que eras essencial. que podias ir e que te esperavam ao
voltar. e que nos dias em que precisaste de não dizer nada mil vozes
estavam suspensas por ti. que a solidão será sempre a melhor escolha e
nunca um castigo.
e quando não tiveres mais forças, nenhumas, nenhumas, tens ainda uma
prenda para dar. que mesmo fora do contexto vai comover uma amizade de
pedra. e é uma prenda que diz isso. que aconteça o que acontecer por
mais tempestades que te tirem a respiração a vida que tiveste ninguém te
tira. e depois dessa prenda o silêncio fará mais sentido. porque a
memória está presa à pele e essa nunca nos deixa o corpo solto. e o
futuro será sempre o que quiseres. e enquanto ele for um gigante ponto
de interrogação terás todas as portas abertas. e isto que ensinaste a
toda a gente hoje é a ti que o dizes. e depois disto vais focar-te outra
vez, e vais sentar-te na tua cozinha e beber um martini ao final da
tarde, antes de um jantar gourmet qualquer. e tudo vai voltar a fazer o
sentido de antes. porque nunca soube ser se não alma. e apesar da dor
que muitas vezes isso me causa a maior parte das vezes sou absolutamente
por inteiro. e isso não troco por nenhuma outra coisa.
uau que bonito! és linda!
ResponderEliminarcá estamos!
ResponderEliminarsempre...