tenho pensado muito nas certezas absolutas. o conceito em si é ridículo, porque uma pessoa não pode saber nada em absoluto, a não que seja absoluto para si e para o resto do mundo não, mas logo aí o conceito de absoluto fica de pernas para o ar.
acho que as certezas absolutas são uma doença do século. com as coisas más que nos acontecem, as vidas difíceis que vamos tendo por diversas razões, acabamos por nos virar para dentro. somos pessoas viradas para dentro. e depois aumentamos com uma mega lupa tudo aquilo que sentimos e acabamos por ver o mundo à nossa semelhança. nada mais natural dirão uns. evitável, digo eu.
e depois temos as pessoas que vivem sozinhas que acham que viver sozinho é que é bom, quem encontrou uma pessoa para a vida que acha que partilhar vida assim é que é bom, quem é mãe que acha que quem não tem filhos não sabe da missa a metade, quem supera as desilusões num instante acha que quem não supera é preguiçoso, quem trabalha num sítio horrível mas ganha bem acha que esse é o pior dos infernos, quem trabalha num sítio fixe e ganha mal acha que esse é o pior dos infernos. e por aí fora. a lista é extensa. quem não gosta de leite com café porque não faz a digestão acha que niguém devia beber leite com café, porque faz mal. a nossa família é a melhor, mas invejamos a dos outros que parece não ter problemas. a nossa forma de limpar é melhor que a da mulher a dias e toda a gente sabe que não se cozinha com vinho tinto e não faz sentido nenhum usar manteiga com sal porque a manteiga sem sal é exactamente igual e não faz tão mal. etcetera.
não que eu esteja mal disposta, que não estou. estou a tentar manter a mente aberta, meus amigos, estou mesmo a tentar. ouvir o que os outros têm a dizer. tentar explicar-lhes o que penso e talvez mudar de opinião. evitar que me digam que não posso falar de cianças porque não tenho filhos ou do desemprego porque felizmente não passei por isso. a nossa vida não se faz só da nossa experiência. comigo cresceram muitas crianças e sei segredos deles que as mães não sabem. não sei o que é o desemprego nem sei o que é não ter férias contadas ou dias inteiros meus à minha frente. não conheço a angústia de ter a corda ao pescoço mas conheço a angústia de não poder escolher tê-la. as minhas experiências fundem-se nas experiências de quem adoro e com quem aprendo todos os dias. estou em guerra contra a intolerância porque a todos os níveis a intolerância é a maior estupidez de um ser humano.
por isso sejamos pró-amor, vá lá. olhem à volta. e deixem que ganhar o euro-milhões seja a maior alegria de uma pessoa porque "o dinheiro não compra a felicidade" mas compra o direito a poder ir procurá-la sem amarras. eu cá havia de ser muito feliz se tivesse muito dinheiro. e se tivesse um filho. ou se tivesse outro trabalho. mas só eu sei como sou feliz no meu sofá, com aquele sol todo a bater-me nos pés, ao final da tarde. este discurso é para vocês e para mim própria. numa espécie de reflexão dos 30 anos e um futuro que se avista como um gigante ponto de interrogação. e há lá coisa melhor do que não saber nada do que aí vem?
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