Lolitar.
(do latim aparvalhare, um)
v. int.
1. Acto de fazer lolitagens;
2. Deitar cá para fora amarguras, irritações, parvoíces e palavras pirosas do coração;
3.O mesmo que esticar o cabelo na marquise da Rosa.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Cara Jonet
Nunca na vida me passou pela cabeça ter que lhe escrever, mas depois de ler tantos comentários a uma intervenção sua num canal de televisão, achei por bem perder a minha meia hora de almoço a ver o vídeo, para me inteirar da situação.
A seguir, assinei com todo o prazer a petição a exigir a sua demissão.
Vamos por partes. Primeiro, nunca conheci ninguém que vivesse acima das suas possibilidades. E olhe que conheço muita gente! Conheço gente que aqui há uns tempos, com o dinheiro que ganhava honestamente, ia ao cinema, ao teatro, a concertos, ia viajar pelos quatro cantos do mundo, ia jantar fora. Uns compraram um portátil. Ou um ipad ou ipod. Também podiam ir tirar radiografias ou tratar das cáries, sem que isso lhes tirasse o bife do prato, ao jantar. Compravam livros e faziam planos para ter filhos, porque viviam consoante as suas possibilidades e, com alguns ajustes, podiam pagar uma creche e um pediatra. Sem roubar nada a ninguém, sem chular ninguém, sem pedir emprestado a ninguém. Com o suor do seu trabalho, lutaram para tentar conquistar os seus sonhos, sejam eles ter filhos ou ter uma televisão de ecrã plano, do tamanho da minha casa. E quem somos nós para julgar?
Segunda questão. A do concerto de rock e as radiografias. Tenho que lhe agradecer por me fazer rir a alto e bom som, ao mesmo tempo que punha a mão na testa e ia murmurando um "eu não acredito nisto!". Então agora é crime ir a concertos? É por ser rock? Se for heavy metal, já é bem visto? Não percebi e não quero acreditar que tenha insinuado que temos que ficar fechados em casa a curtir a depressão da crise. Se calhar quer é proteger-nos, não vá o diabo tecê-las, levar com alguém em cima num moche e ser preciso dinheiro para uma radiografia ao pé torcido, é isso? Pois tenho que informá-la que enquanto vivi com os meus pais, paguei os estudos e algumas despesas da casa com o pouco dinheiro que sobrava. E só não saí do ninho mais cedo, porque precisei de vários exames médicos e tratamentos e sim, realmente era a minha mãe que os pagava. Porque eu não tinha. Às vezes também ia a concertos comigo. Foi ela quem me ensinou como o rock é bom! Foi com essa grande mulher que aprendi também que os cuidados de saúde devem ser gratuitos, porque é mesmo para isso que pagamos impostos. Para que as coisas essenciais não faltem a ninguém.
Terceira questão. A miséria. Não há miséria em Portugal. Não há gente a procurar comida no lixo. Não há gente que come goody (abençoada marca branca do lidl, que o nestum está caro e eu não posso viver acima das minhas possibilidades), para que os filhos possam comer uma refeição de carne ou peixe. E isso não é de louvar. É o que o nosso instinto de mães e pais nos ensina. Que temos que proteger as nossas crianças e fazer com que nunca lhes falte nada, custe o que custar. Mas é triste que tenhamos que chegar a este ponto. É triste que tenhamos que sobreviver em vez de viver. A minha filha, senhora Jonet, tem 5 anos. E dava-lhe cá um baile sobre este assunto.
Quarta questão. Não devia a senhora lutar por erradicar a fome em Portugal, denunciar os casos miseráveis de que tem, com certeza, conhecimento e não andar a gabar-se por andar a alimentar pieguinhas que gostavam de comer bifes todos os dias?
Quinta questão. É preciso ir a sua casa dar uma lição a si e aos seus sobre bons comportamentos ambientais? E de como a defesa do meio ambiente nos torna melhores pessoas? Pelos menos, activas, atentas e preocupadas?
Resumindo, a senhora é uma ursa. Tem a sensibilidade de um pionés e a noção da realidade de um grão de areia.
Realmente fico uma jóia de pessoa quando cagam sentenças sobre como devo gerir as minhas finanças, como devo engolir o roubo de que sou alvo por parte deste (des)governo corrupto e sobre o que devo comer ao jantar.
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