sábado, 24 de novembro de 2012

Bye Bye

No banco de trás estava sempre a cadeirinha da piolha e a varinha mágica cor de arco-íris, com tantas purpurinas, que quando saíamos do carro vínhamos cheias de brilhantes na testa, na ponta do nariz, nas bochechas, nas mãos, em todo o lado!
O segredo era simples. O carro não pegava, eu abria o capô, descalçava as botas, expunha as minhas meias da hello kitty para os vizinhos verem, e contava até 3. Aí ao mesmo tempo que dava uma sapatada na bateria com a bota, a Laura fazia magia com a sua varinha. O carro gemia, eu fechava o capô, dávamos mais cinco para celebrar, girava a chave e vrummmm! A estrada era toda nossa.

Um dia escrevi sobre ele,

pode ter 3947 anos, pode ter fugas de água e pode ter bolor porque lhe chove lá dentro. O fecho centralizado pode só funcionar numa das portas e os auto-rádios explodem e deitam fumo. Pode ter mais mossas que chapa, mais nódoas que estofos. Pode ter criação de formigas e aranhiços e até o podem proibir de circular avenida da liberdade fora porque não tem catalizador. Pode ter vidros eléctricos que se fecham à mão e ursos com barretes de natal no porta-bagagens, porque é o melhor carro do mundo!

Hoje despedi-me dele. A Laura vai ganhar um bom casaco para o Inverno. As boas memórias essam ficam cá. As luas de mel, as idas ao ballet, os chapéus de chuva abertos lá dentro por causa das cascatas que caíam do tejadilho, o brincar ao carrossel em plena rotunda do Marquês de Pombal...

Amanhã vou ter que explicar à melhor filha do mundo que a magia no mundo da mecânica terminou por agora...



8 comentários:

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    1. opáaaa foi uma vergonha, sou uma piegas! chorei e tudo!

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  2. Percebo-te tão bem!
    Foi assim com o meu primeiro carro!
    Deixou de andar e nem havia peças para ele (quem mandou ter comprado um modelo de carro que só vieram 6 para Portugal) mas mantive-o parado à porta durante um ano e sempre que aparecia um comprador interessado arranjava uma desculpa para não o vender!
    Chorei que me desunhei!

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    1. Nem é pelas coisas em si, é pelo valor sentimental, pelas memórias... é engraçado como nos apegamos às coisas :)

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  3. Oh, isso é que é uma chatice... uma pessoa até se apega aos carros.

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    1. Ainda nem disse à minha piolha... eu tentei, mas ela disse-me logo que eu não precisava de o vender que ela fazia magia... estou de coração partido...

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  4. :( não quero pensar que isso possa acontecer ao meu!

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  5. Não há dinheirinho, não há pópózinho :(

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