Lolitar.
(do latim aparvalhare, um)
v. int.
1. Acto de fazer lolitagens;
2. Deitar cá para fora amarguras, irritações, parvoíces e palavras pirosas do coração;
3.O mesmo que esticar o cabelo na marquise da Rosa.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
UMA AVENTURA NAS URGÊNCIAS DO S. JOSÉ (a true story)
Com dores excruciantes no lado direito do tórax, Eurídice dá entrada no serviço de urgências do Hospital de S. José às 20h15 do dia 12 de Janeiro de 2011. Tem alta desse mesmo serviço às 4h da manhã do dia 13 de Janeiro. Esta é a história das incríveis 8 horas que passaram entre entrar com dores e sair com mais dores ainda.
Acordei tarde no Sábado, dia 8 de Janeiro. Ao levantar-me, reparo como sou sossegadita a dormir, uma paz de alma, que até dá gosto na altura de fazer a cama. Uma tosse "cafum-cafum", nas palavras da mãe, "tens de ir ver isso" nas palavras do pai, que começava a desaparecer com a ajuda de um xarope, acorda em mim depois do banho e sinto uma pontada no lado direito. "Mau", pensei. "Isto doeu um bocado, pá".
Ignoro, mais ou menos, dentro do possível. Hipocondríaca assumida há uns anitos, desconfio hoje que seja impossível desenvolver 5 ou 6 cancros diferentes no espaço de 3 semanas.
Adiante
Dor aguda no lado direito, mesmo por baixo, por cima, ao lado, na metafísica da minha última costela. Em alegre convívio com os progenitores, horas mais tardes, fico pálida e rezingona (um dia normal até agora) e sem energia ("mas eu acordei às 12h30. Mau! Sem energia? Com tosse cafum-cafum? Pálida? E hoje sangrei das gengivas! Aliás, há uma semana que sangro das gengivas? Aliás, há anos infindos que sangro das gengivas! Meus Deus, posso estar com leucemia!" - welcome to my brain). A mãe acha estranha tanta prostração, pergunta-me se estou bem. Não quero alarmá-la com o facto de estar à beira da morte e resmungo qualquer coisa. Volto para casa. Como qualquer coisa (não me lembro o que seria, mas vou apostar em queijo fatiado, marca branca, que anda em altas no meu frigorífico há uns meses), sinto-me melhor, mas a dor continua e agora também dói quando espirro.
E assim entramos no dia 9 de Janeiro. A dor agrava-se, dói-me levantar-me, dói-me deitar-me, dói-me estar curvada, dói-me estar direita, dói-me tocar na maldita costela. Por esta altura tenho leucemia e cancro do pulmão, claro, porque o pulmão acaba ali, naquela pontinha que me dói. E porque estou muito enfastiada com a situação.
Dia 10 acordo para ir trabalhar e quando entro no carro percebo que a coisa de me demorar 35 minutos a vestir-me era apenas um prelúdio para as dores lancinantes que iria sentir a meter a 2ª enquanto ponho o cinto... Dou meia volta e vou ao médico de serviço permanente que me diz que pode ser uma de 3 coisas:
- distensão muscular
- zona (ó meu deus, é mesmo leucemia!)
- pneumotórax (eu sabia! é cancro do pulmão! ó meu deus, vou morrer e nunca cheguei a ter um iPad)
Raio-x e 1h depois, ficamos reduzidos a Zona - mas só se aparecerem borbulhinhas onde dói até 5ª feira - e distensão muscular. Toma lá analgésicos, vai para casa e sonha com borbulhas gigantes cheias de pus e sangue a escorrerem tronco abaixo enquanto tudo o que fica de ti são dois bracinhos e uma cabeça com o cabelo oleoso porque hoje nem conseguiste lavar o cabelo como deve ser.
fim da primeira parte
note-se que ainda não chegámos às urgências. Será de continuar?
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Tretas. Isso é daquelas coisas que até se diagnosticam, calmamente, sentado num sofá...
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