terça-feira, 14 de maio de 2013

Se a Angelina Jolie recorresse ao SNS

ainda teria as duas mamas. Provavelmente nunca teria sequer feito exames para detectar as alterações genéticas que fazem com que tenha mais de 80% de ter cancro da mama.
Provavelmente passaria 6 meses com sintomas e dores e má disposição, para lhe diagnosticarem uma depressão. Ela insistia que não existia qualquer tipo de depressão, a família perderia a paciência e gastaria balúrdios num hospital privado para que lhe fizessem um diagnóstico correcto.
Aí, iria ser encaminhada para o público para começar os tratamentos. Deixariam-na horas à espera em salas frias, cheias de gente, para um oncologista nem sequer a olhar nos olhos. Deixariam-na esquecida, a apanhar correntes de ar, numa sala com um qualquer programa da tarde a dar na televisão, à espera da radioterapia, até os familiares darem com ela e reclamarem.
Provavelmente levaria adesivo de casa para prender as agulhas e os fios, porque no hospital não havia.
Provavelmente, ligaria a quem mais ama, a pedir socorro, a chorar, porque está doente, cansada, não se consegue levantar da cama e nenhuma enfermeira foi capaz de lhe mudar os lençóis durante a noite.
Quase de certeza que, no dia seguinte, a família a tira do hospital e a leva para casa, contra as ordens médicas.

Foi das últimas vezes que vi a minha mãe rir às gargalhadas. Em casa. Connosco. Protegida.

Provavelmente, os familiares teriam que deixar de trabalhar e estudar para ter a certeza de que estava bem acompanhada. Para estarem atentos de cada vez que lhe trocavam os exames ou não lhe tiravam as dores.


Foi de uma coragem transcendente o que a Angelina fez. Aliás, esta mulher é extraordinária. Usa o mediatismo que tem para praticar o bem. Isso é inegável.
E como mãe, acho lindo ela ter tomado esta decisão a pensar nos filhos. Derreteu-me o coração.

A minha mãe morreu com a idade que a mãe da Angelina Jolie morreu.
A minha mãe nunca conheceu a neta.
O SNS fez questão de lhe roubar o tempo que poderia ter para lutar contra esta doença.
A mim roubou-me a mãe.

4 comentários:

  1. O mais triste disto tudo é que é verdade... a nossa verdade (portugueses). E eu tenho tanto medo que isso nos aconteça.

    ResponderEliminar
  2. É muito duro enfrentar uma doença destas neste país... e hoje decidi poupar os leitores às descrições mais dolorosas que a minha mãe passou. Não desejo a ninguém tanto sofrimento.

    ResponderEliminar
  3. Diagnósticos tardios...tb já soube de uns casos. E não por falta de insistência do paciente.
    E como estamos, acho q só vai piorar...
    Mas, ainda assim, tb há mto boas pessoas (e competentes) a trabalharem nesses serviços. Valha-nos isso.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Há pessoas muito competentes, mas infelizmente são uma minoria. Há uma falta de humanidade na comunidade médica que me transcende... ainda temos um longo caminho a percorrer neste assunto.

      Eliminar