sexta-feira, 20 de abril de 2012

E o 25 de Abril aqui tão perto e tão longe...

Quando penso no futuro da minha queijinha, não penso em dar-lhe uma casa, um carro ou uma televisão para pôr no quarto. Penso em oferecer-lhe um mundo melhor. E um mundo melhor para mim é um mundo onde existe uma democracia real, onde ministros fascistas não soltam os cães para bater em tudo e em todos e com impunidade destroem sonhos e liberdades que se conquistaram.
Estamos num mundo perigoso e neste momento, a maior ameaça para além de quem nos (des)governa, é quem se silencia com medo ou porque "os políticos são todos iguais". Gente ignorante e egoísta, que prefere ir ao shopping  fazer comprinhas do que manifestar o repúdio pelas violentas actuações da polícia e pelo roubo constante dos nossos direitos.
Essa atitude faz com que estejam a desenhar para a minha filha um futuro verdadeiramente brilhante: fome, desemprego, atentados à sua saúde e educação, falta de liberdade de expressão. O vosso silêncio está a escrever o dia de amanhã dos nossos filhos e isso pode ser uma sentença de morte - porque a morte não é só física!
Nunca obriguei a Laura a pensar como eu - só no segundo 25 de abril dela (no primeiro ainda estava abrigada na minha barriguinha), é que a levámos sem lhe perguntar, uma vez que tinha poucos meses de idade. Adorou, dançou e tentou abocanhar e lamber todos os cravos vermelhos que se cruzavam com os seus olhinhos. A partir daí, foi explicar-lhe, contar-lhe uma história, meio adocicada, escondendo expressões como tortura, violência, desespero... Porque não lhe quero tirar o mundo cor de rosa. Quero deixá-la ser criança. Mas quero poder dar-lhe as armas para ela combater este mundo injusto e pobre de humanismo e solidariedade... porque eu não vou estar cá sempre.... e pessoas sem coragem, sem garra, que são burras ao ponto de não saírem à rua para mostrarem que o povo unido jamais será vencido, dão-me vómitos e não merecem a minha consideração!
Acham normal uma mãe ser espancada em frente a um filho, porque sente que tem a responsabilidade de fazer deste mundo, um sítio mais equilibrado? Acham normal que haja gente a morrer com cancro, porque não tem acesso a cuidados de saúde? Acham normal alguém deixar de estudar, porque não tem dinheiro nem para comer, quanto mais para proprinas e livros. Acham normal quererem transformar-vos em escravos, em máquinas de trabalho, sem direitos nem protecção, em prol da produtividade, para encher os bolsos de gente que vive acima das nossas possibilidades? Acham normal que tanta corrupção saia impune? Acham normal que se financie bancos e mais bancos, em vez de se financiarem pessoas e projectos? É que se acham normal, a culpa de toda esta degradação é vossa! Porque nem sequer tentam! Nem sequer pensam sobre isso. Eu tinha vergonha de ser como vocês... de ser um fantoche e andar a brincar à vida, como se ela não valesse a pena. Luto pela liberdade da minha filha, pela liberdade dos que amo e dos que não amo, dos que nem sequer conheço. E luto pelos vossos filhos que ainda hão-de vir.
Continuem a postar musiquinhas e imagens sem interesse nenhum, para ocupar as vossas mentes fúteis... Continuem a viver como se não houvesse amanhã... como se nada disto vos afectasse... deixam é de merecer a minha consideração, porque não se preocupam com o amanhã dos nossos pais, dos nossos avós,  com o futuro de ninguém!
Entretanto, a Laura ontem aprendeu uma palavra nova: RESISTÊNCIA! Aprendam-na vocês também!


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