quinta-feira, 11 de julho de 2013

Sobre as 40 horas semanais

Laura... Sabes aqueles dias magníficos em que o papá te vai buscar mais cedo à escola? Aqueles dias em que podes ir andar de baloiço ou ir passear ao jardim? Aqueles dias que parecem maiores porque em vez de 9 horas passadas na escola, passas apenas 8 e isso faz toda a diferença?
Pois bem, alguém achou que nem tu, nem o teu pai, nem eu merecemos isso. 
Alguém achou que trabalhamos poucas horas, que produzimos pouco (seja lá o que isso signifique) e que devemos trabalhar mais 1 hora.

Apesar de não ser funcionária pública, a minha filha vai ter que trabalhar mais 1 hora por dia, 5 dias por semana. Nem 6 anos tem.
As minhas cadelas vão passar a esvaziar a bexiga 1 hora mais tarde.
E eu estou passada dos carretos com esta medida! Já não aguento o "discurso do empreendedor" que temos que produzir mais, que temos que trabalhar mais horas e o que os funcionários públicos passam o dia a coçar a micose e deviam trabalhar as mesmas horas que os do privado. É um discurso idiota, invejoso e mesquinho.
Enquanto andarmos ocupados a apontar o dedo a direitos fundamentais dos trabalhadores, conquistados com enorme esforço, em vez de lutarmos para termos a vida e a dignidade que merecemos não vamos a lado nenhum. E que tal os do privado trabalharem 35 horas semanais, em vez das 40?

Parece que agora só não é crime querermos trabalhar até morrer. 
Tempo para passear, descansar, namorar, foder, ler um livro, ir ao cinema, ver as vistas, ouvir música, contar as estrelas? Está tudo maluco? Qualquer dia querem viver, não? Nã nã! Trabalhar é que é bom! Trabalhar, trabalhar, trabalhar. Acabem-se os feriados, as horas extraordinárias pagas como deve ser, os subsídios de natal e de férias e com as baixas. Férias. Que acabem com as férias também! E com as famílias! Que se comece a viver no local de trabalho. A dormir lá. Os nossos miúdos já passam tanto tempo na escola, dá-se-lhes um saco-cama e eles ficam na boa a viver na sala de aula. Com alguma sorte, ainda nos dão o Domingo para matarmos saudades. Ou não. Fechem-se as portas das galerias do povo, para que as leis possam ser aprovadas à porta fechada. Escravos, submissos, endividados com dívidas que não contraímos, completamente vazios de acção, resignados. É assim que nos querem.

São mais 5 horas de trabalho por semana, pagos a custo zero, são 260 horas num ano que a minha filha vai passar na escola. Em vez de regar as nossas plantas, levar as nossas cadelas a passear ou ler um livro aninhada nos braços de quem mais ama.


Já a minha avozinha dizia que "quem não deve, não teme". Não podemos continuar a ser (des)governados por quem tem medo de nós!
Para a próxima que não sejam os inocentes a abandonar o parlamento!

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