quinta-feira, 16 de junho de 2011

E se fosse contigo? E se fosse com o teu filho ou com a tua filha?

Era uma vez uma mãe que trabalhava a recibos verdes. Era uma vez uma mãe que não arranjava  vaga para a sua filha em nenhuma creche que conseguisse pagar. Era uma vez uma mãe que durante um ano inteiro levou a filha consigo para o trabalho.
Assisti a tudo: a aprender a gatinhar, a bater palminhas, a dizer adeus, as primeiras palavras, aos primeiros passos, mas sempre com o coração de mãe a dizer-me que não era o ambiente adequado a uma criança.
Era uma vez a minha história. Uma amiga que era assistente social disse-me para eu ligar à XXXXXX e explicar que a minha filha estava a crescer no meu posto de trabalho, em vez de crescer com outros meninos, numa escolinha.
Contei a minha história e no dia seguinte recebi um telefonema: a L. tinha sido aceite e ia frequentar a creche. Ia poder brincar o dia todo e ter a atenção que uma criança pequena merece ter (e não tem se a mãe está a trabalhar).
Foi crescendo, feliz, equibrada, estimulada.
Passou para o jardim de infância. Com uma educadora fantástica, cheia de energia, paciência e muito mimo para dar.
Numa reunião foi –me transmitido que iam fazer a experiência de tirar a sesta aos meninos dos 3 anos… na ignorância de mamã de 1ª viagem e pela confiança que tinha na educadora, apesar de torcer o nariz, deixei. Mas vim para casa ler artigos de pediatras, educadoras e pedo-psiquiatras  que falavam em ser uma “tortura” tirarem a sesta às crianças. E apercebi-me da gravidade da situação. A maior parte dos pais não estava minimamente preocupado – era óptimo os miúdos estarem já na cama, para se poder ver a telenovela em paz, lá em casa.
Falei com uma jornalista (mãe, também) que ficou horrorizada com a situação e fez uma peça sobre o quanto era importante a hora da sesta e dos benefícios que isso trazia.
Como que por milagre, no final da semana, já os meninos dos 3 anos dormiam todos a sesta, “porque este tipo de atitude não se enquadra na orientação pedagógica do estabelecimento XXXX” – se não se enquadra, para quê a experiência?
Este stress passou e os meninos continuaram a crescer.
O Pai Natal trouxe-lhes um porquinho da índia – que já tivemos o privilégio de ter como visita de fim-de-semana.  Construíram laços uns com uns outros, tornaram-se amigos. São 3 anos de convivência diária, de aprendizagem constante e de muita brincadeira.
Na última reunião de pais recebemos a notícia que os meninos que não residem na área do estabelecimento não vão poder frequentar o 2º ano do jardim de infância.
Aleguei tudo e mais alguma coisa na reunião: Se uma criança está perfeitamente integrada a meio de um ciclo de estudos (1º ano do jardim de infância), porquê obriga-la a mudar de estabelecimento, tendo que mudar de hábitos, de educadora, de amigos?  Não seria de dar continuidade a todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido quer pelo pessoal do estabelecimento XXXXX quer pelas nossas crianças (quer a nível educativo, quer a nível comportamental e afectivo), pensar no bem-estar delas e evitar esta mudança?
São ordens superiores (na história da sesta ouvi exactamente este argumento) e não se pode fazer nada contra isso.
Contactei o Ministério da Educação, e a senhora que me atendeu nem queria acreditar. Que tal coisa nunca tinha acontecido, mas que não podia fazer nada – só em relação aos jardins de infância públicos, que defendem a prioridade em relação a crianças que já frequentam o estabelecimento.
Insisti, entreguei a matrícula da L. na mesma, com o comprovativo de que a tinha matriculado noutras escolas, porque assim era exigido.
Também me aconselharam a matriculá-la no estabelecimento XXXX da minha área de residência, que não aceita meninos que completem os 4 anos em 2011, mas também não “expulsam” os que já lá estão e não residem perto.
Escrevi ao órgão máximo da instituição, como mãe, a pedir-lhe, por favor, para ter em atenção o bem-estar destas crianças.
Recebi uma carta de resposta com Decretos-Lei que nunca foram postos em prática, porque se o tivessem sido, a L. nunca teria entrado para aquela creche e depois para o 1º ano do infantário. Tudo em nome da implementação do “Sistema de Gestão de Qualidade”. Que grande qualidade esta. Pensar na continuidade educativa destas crianças em último lugar!
Os amigos e a família tentam dar-me alento “deixa lá, os miúdos adaptam-se!”, mas e se fosse com vocês? Estavam na 3ª classe e quando iam passar para a 4ª obrigavam-vos a mudar de escola, de amigos, de professor? Gostavam? Faz algum sentido? Porque no meio de todas estas histórias quem paga a factura é ela.
Vou ter que pegar na minha filha e “encaixá-la” onde houver vaga… sem poder avaliar as educadoras, as auxiliares, o ambiente em si. Já fiz isso uma vez e correu bem. E se desta vez não correr bem? E quando ela me perguntar pelos amigos? E pelo porquinho da índia? Que respondo eu? Que está na escolinha dos grandes? É que no ano a seguir vai mudar novamente para a pré-primária. Que benefícios poderão trazer estas mudanças todas a seres tão pequeninos? Ao ponto a que cheguei: sou eu a mãe e sinto que não a estou a proteger convenientemente…
Agora só me resta a carta à Segurança Social… e que seja alguém evoluído e humano a lê-la…

5 comentários:

  1. Vera ainda á pouco li este teu desabafo de indignação e enviei um comentário que não sei se irá aparecer,mas vamos lá outra vez.Existe uma lei em que tu podes escolher o estabelecimento de ensino na tua área de residência ou no teu local de trabalho,se esse é o teu caso basta pedires á tua entidade patronal uma declaração em como lá trabalhas e o teu horário que te impossibilita de teres a tua filha em outro local.Verifica se esta lei ainda está em vigor eu iria jurar que sim.Também verifica se todas as creches e afins têm de cumprir essa lei.Boa sorte para essa luta que é terrível para nós mas muito pior para as nossas crianças pois por vezes perdem referências que são tão importantes nesta idade. Um beijinho para as duas (mãe do João Silveira)

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  2. Obrigada pelo comentário! Não é assim tão simples, porque é uma parceria público-privada. Não é da minha área de residência nem da minha área de trabalho - mas também daqui por 10 dias fico no desemprego, por isso não sei se não arranjo trabalho lá ao pé. A Directora está-se nas tintas para os miúdos e as ordens superiores são para ser cumpridas! é aí que eu entro em acção!! Porque acho inadmissível ninguém defender os interesses destas crianças!

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  3. :( poça, realmente as "ordens superiores" são sempre a desculpa para tudo! Se houvesse o mínimo de responsabilidade social e educacional NUNCA sequer punham em questão que a Laura continuasse lá. Que parvoíce... Que não aceitem novas crianças nessas condições, até aceitaria, porque são regras novas, agora fazer isso a uma criança que já tem lá os amigos... Sabes o que parece? Parece que, como te insurgiste contra aquela questão da sesta, te estão a "castigar" por teres "feito barulho"... Enfim! Espero que consigas arranjar trabalho rápido, e qdo eu falava em "desempregadas" no comentário do facebook, falava daquelas de longa-data q estão a receber subsídios mas sem interesse em trabalhar (apanhei muitas nas filas para as entrevistas nas creches para o Ricardo). Tudo de bom!

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  4. Sim, Carina, eu percebi o que querias dizer.
    Castigo ou não, quema acaba a ser castigada é a L. E por isso não me vou calar!!! É que não faz qualquer sentido! Porque é que a deixaram frequentar o 1º ano??? Diziam logo que ela tinha que mudar! Não é agora, passado 1 ano!!!
    Uma autêntica vergonha, isto!

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  5. oh verinha... nem sei o que faria se se passasse comigo mas tenho orgulho nessa mãe que faz todas essas cartas para as "instâncias superiores"... tenho muito orgulho nessa mãe, mesmo. e se houvesse alguma coisa que pudesse fazer eu juro-te que faria. e será que posso? diz-me...

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